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quinta-feira, 17 de março de 2011

Kid Moringueira

Antônio Moreira da Silva nasceu no dia 1.º de abril de 1902, na Tijuca, zona norte do Rio, quando só existiam seis automóveis circulando pelo Rio de Janeiro. Filho do músico Bernardino da Silva Paranhos e da cozinheira Polodina de Assis Moreira, ele ficou órfão de pai aos 2 anos. Criado no morro do Salgueiro, Moreira arrumou seu primeiro emprego, aos 10 anos, numa fábrica de meias. Ele teve duas irmãs, Rosália e Ruth.
Aos 17, Moreira da Silva se mudou para o Morro da Babilônia, na Tijuca. Foi nesta época que ele levou muitas surras da mãe, que não gostava de vê-lo ao lado dos malandros do morro. Também foi nesse período que Moreira revelou seu lado mulherengo. Surpreendeu a mãe com a notícia de que Jandira, uma de suas namoradas, estava grávida. A moça morreu no parto e o bebê, poucos dias depois.
Em 1921, Moreira da Silva conseguiu emprego como ajudante de chofer de táxi da Central do Brasil. Sua função era rodar as manivelas dos veículos para o motor, já que naquela época ainda não existia o motor de arranque automático, o que só aconteceria em 1926. Rodou manivelas de automóveis durante quatro anos. Só parou quando conseguiu emprego de motorista de ambulância no serviço público.
Dois anos mais tarde, aos 25 anos, casou-se com Maria de Lourdes, a Mariazinha, com quem viveu durante 56 anos, até sua morte, em 1983.O malandro ganhava alguns trocados a mais fazendo serestas nos morros. Foi quando conheceu o compositor baiano Getúlio Marinho da Silva, que se encantou com sua voz. Em novembro de 1931, Moreira entrou pela primeira vez num estúdio para gravar a música "Ererê", ainda em disco de 78 rotações - o LP só seria lançado no Brasil em 1951. Naquela época o sistema de gravação mecânica fora substituído pelo elétrico, o que facilitou a tarefa de gravação. Deixou, então, os botequins improvisados de jogos de bilhar nos morros e passou a freqüentar os bilhares da Praça da República, hoje Campo de Santana, próximo à Lapa, reduto da malandragem carioca.
Moreira da Silva inventou o samba de breque - pausas reservadas durante as músicas para a inserção de frases engraçadas e cheias de gírias - por acaso. Durante a gravação da música "Jogo Proibido", surpreendeu os músicos que o acompanhavam improvisando frases fora da letra da música. O estilo estourou nas paradas de sucesso de rádio. Moreira da Silva foi contratado, em 1937, pela rádio Mayrink Veiga, um dos melhores meios de divulgação dos artistas na época - a televisão só chegaria ao Brasil em 1950. Mas em nenhum momento o sambista largou o serviço público. Para conciliar os empregos, abonava os bolsos de seus subordinados para não ser delatado quando se ausentava. Chegou a gastar um salário inteiro da Prefeitura para pagar quem o substituía nos dias em que faltava. Em 1939, embarcou para Portugal para participar do filme A Varanda dos Rouxinóis. A viagem, de navio, durou 15 dias. Esta não seria a única incursão do sambista no cinema. Ele também foi ator nos filmes Sem Essa Aranha, de Rogério Sganzerla, em 1969, e no documentário Moreira da Silva, o Filme, de Ivan Cardoso, em 1972.
O malandro voltou a ganhar a manchete dos jornais em 1971, quando gravou a música "No Clã dos Imortais". A letra criticava a proibição do ingresso de mulheres na Academia Brasileira de Letras. O velho malandro, de fardão, foi até a porta da ABL, mas não conseguiu entrar. Foi barrado pelo então presidente da instituição, Austregésilo de Athayde. Embora nunca tenha sido preso, Moreira chegou a entrar num camburão, em solidariedade ao amigo Jards Macalé, que foi detido pela ditadura, em 1976. Malandro, o sambista tratou de cantar logo um de seus maiores sucessos, "Olha o Padilha". Para aproveitar a canja, os policiais deram várias voltas no quarteirão. Mas nem assim Moreira conseguiu evitar a prisão do amigo.
Depois viveu sozinho em um apartamento de quarto e sala no bairro do Catumbi, no centro do Rio, desde que sua mulher morreu. "Ainda sinto saudades dela." disse aos 97 anos. A filha adotiva, Marli Correa Gomes, e os netos, Jorge Antonio e Juliana, estão sempre por perto. Moreira passava as manhãs na cama e só sai de casa uma vez por mês para ir ao banco receber sua aposentadoria, de R$ 1,2 mil. Mesmo depois de se submeter, em 1994, a uma operação de catarata, e outra, em 1995, na uretra, ele ainda fez shows, pelos quais cobrava R$ 5 mil. Ainda encontrou energia para gravar, em 1995, o CD Três Malandros in Concert, ao lado de Dicró e Bezerra da Silva. "Ganhei muito, mas gastei tudo com as mulheres", conta o sambista, que manteve um caso de 20 anos com a prostituta Estela, entre dezenas de outras. "Eu era espada", justifica o eterno malandro.
Morreu no Rio de Janeiro em 6 de junho de 2000 (aos 98 anos).

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