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"Concreto"

Pedra, barro, massa     Mão, calo, amassa! Levanta parede  No ar  D a hora Que se levante! Mora dentro     F ora   Vi...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Ser ou não ser?

O problema maior dessa vida é saber o que fazer com o tempo...
A vida como espera, não sei do que...
Contar os dias para regressar ao Brasil, ver a família, andar na "minha" cidade (quem diria que eu iria ser adotado pela grande moedora acolhedora de gentes), São Paulo!.
Amar o Marrocos é uma tarefa que tem se mostrado ingrata...
Não quero falar mal da vida deles: trabalho aqui, "invisto" aqui (eu com a mais valia, o dinheiro mesmo é de uma grande corporação, e há alienação no mais puro sentido marxista nisso tudo) e sempre achei que onde se ganha o pão merece todo o respeito do mundo...
Mas é um mundo estranho, apesar de nada humano me ser estranho, mas é estranho...
Eu sou estranho, eu me estranho, infantil o comportamento deles e o meu: erro as palavras, esqueço o rumo do norte, sinto frio e a umidade me atravessa os agasalhos inadequados!
São mais sensações da alma que do corpo! Exílio amargo de mim!

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Solidão

Hora morta, primeira prece do Islam, 5 da matina, noite calma.
"solidão palavra cravada no coração
resignado e mudo no compasso da desilusão"
(Paulinho da Viola)
"solidão apavora
a lágrima clara sobre a pele escura"
(Caetano e Gil)
"solidão é fera a solidão devora
e faz nossos relógios caminharem lentos
causando um descompasso em nossos corações"
(Alceu Valença)
Hora viva: suco amargo da grapefruit,
A geladeira vibrando seu motor,
O galo que canta depois do muezim,
O carro que passa e leva meu pensamento
Que volta logo para o recolhimento
Das minhas paredes brancas.
O vazio que impera no Universo
Toma conta da minha cabeça...
Mas em breve se dissipa:
Azáfama de se barbear, tomar banho,
Vertir-se e dirigir até "lá em baixo",
Jorf Lasfar, visita do rei Mohamed VI.
Será que o verei, dentro de uma limusine
Ou outro blindado?
Quem sabe ele não me veja?
E talvez tenha inveja da minha vida "comum"
E um pouco vazia, como um palácio real?

domingo, 12 de outubro de 2008

Casablanca, Rick´s Café

Para a Kátia...
"As Time Goes By"
Jimmy Durante (letra) e Herman Hupfeld (música)

You must remember this,
a kiss is just a kiss,
A sigh is just a sigh,
The fundamental things apply,
as time goes by.

And when two lovers woo,
They still say "I love you,"
On that you can rely,
No matter what the future brings,
as time goes by.

Moonlight and love songs,
never out of date,
Hearts full of passion,
jealousy and hate,
Woman need man, and man must have his maid,
that no one can deny.

It's still the same old story,
a fight for love and glory,
A case of do or die,
The world will always welcome lovers,
as time goes by.

sábado, 11 de outubro de 2008

"Deus...

...é o silêncio do universo e o homem o grito que dá sentido a esse silêncio."!
José Saramago

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Granada

Quem viveu seus amores debaixo do cipreste do Generalife?
Quem furou poços vendo a água ser canalizada ao lados das escadas, e acalentou as rosas e gerânios e todas outras mil flores floridas do Patio da Acequia, refletiu no Patio de los Leones antes de dar audiência em salas régias??
Quem se não alguém que me legou uma gota de seu sangue?
Quem se não uma molécula de água, que foi um fluido corporal qualquer e hoje existe dentro de mim?
Quem se não um ancestral mesmo que inventado, mas cativado, cultivado, dentro aqui, que acalentou paredes e jardins, que amou e foi traído talvez, que viveu o apogeu e o declínio daqueles reinos, que fez alianças com outros mouros e com "cristianos", que lutou pela vida, que defendeu os seus, que pensou outro mundo melhor para os filhos???
Quem se não um homem que habita em mim, um menino que olha os pórticos da elevação e vê a planura, a muralha da sierra e sabe que além há um mar antigo, batido de ondas por atravessar, que a vida é não vida e a morte não morte?
Caminhantes sobre a terra, esses homens (seja o rei ou o seu jardineiro) são meus irmãos: damos as mãos, beijamos os rostos e repartimos nosso pão fraternamente, pelos séculos dos séculos!

Sevilla

O Guadalquivir, a Catedral com a Giralda, torre igual a Kotoubia de Marrakech e a Torre Hassan II de Rabat, a Plaza de Toros la Maestranza, Triana e Santa Cruz, sorvete no Mama Goye, bacalao fresco no El Buzo, porco, fonte de alegria no Sierra Nevada, ramón serrano de Jabugo, pata negra, ibérico, a movida por todos os bares, alameda de Hércules, terra antiga de Hispalis, modernidade um pouco passada da Expo, vibrante, a crise que chega não embaça o brilho da quarta maior cidade de Espanha, "minha España", pois me sinto Carrijo e Bengochea, galego, castelhano e basco, sou "dono" do Archivo das Indias, é minha a Puerta de la Carne, Santa Maria la Blanca, a Igreja do Salvador, e e meus os tesouros de Murillo, de Goya, de todos os outros que lotam o Museu de Belas Artes, as callecitas angostas, a medina transformada, moçarabe, andalous marroquina que deu certo, sonho universidades, indústrias e comércios de luxo como aqueles em todo canto, no Marrocos e no Brasil, descente orgulhoso desses ciganos, desses mercadores e nômades que aqui se sedentarizaram!

Andalucia

Al Andalous, terra dos vândalos, em árabe. O Marrocos é "isolado", está bloqueado na África, não "conversa" com a Argélia por rivalidades e a Mauritânia e o Mali tem o deserto a lhe dificultar...
Então, para os feriados do fim do Ramadan, fomos a Tânger (450 km ao norte de El Jadida) e daí um ferry (horas de espera, filas marroquinas com propinas para by passar-nos...) chegando em Tarifa, as belas autopistas da REd de Carreteras de Andalucia: 3 dias em Sevilha, 1 dia em Granada... anestesia para as marroquinagens que `as vezes nos enchem tanto o saco!
O sheik árabe que se instalou no Marrocos lá pelos anos 700, logo no fim da vertiginosa campanha que varreu a Arábia e o norte da África, e conseguiu subjugar os bérberes, mandou Tárik, um de seus comandantes, com 7000 bérberes (em quem eles não depositavam interia confiança) para o estreito (que então eram as colunas de Hércules e depois ganhou o nome do próprio Tarik, Jbel el Tarik, Gibraltar...).
Isso para dizer que a conquista árabe, a reconsquista cristã e tdos esses séculos não foram "simples": intrigas, vassalias e suseranias, sedições, alinças aqui e ali, desfeitas,´imposições, até termos o esplendor do Califado de Córdova (maior cidade da Europa nos séculos XI e XII, terra de Omar Khayan, Ibn Gabirol, Verroes, In Sina (Avicena) e Ibn Maimon (Maimônides) e depois a lenta derrocada do Reino de Granada já para os "Reyes Catolicos" Fernando e Isabel, na pulsilanimidade sensível de Abu Abdel Alah (nosso "Bobadilha", que conseguiu o trono pelas artes de sua mãe, contra o filho da concunbina cristã de seu pai; mesma mãe que lhe mandou enxugar as lágrimas pelo abandono do Al Hambra, o palácio vermelho e os jardins do Generalife na colina de Sabika ao lado do Albaycín, quando desciam de Granada para Motril para pegar o barco para o Marrocos após se render e entregar as chaves de Granada aos reis católicos dizendo: "Não chore como mulher o que não soubeste defender como homem!").
Ah, entendo bem as contradições dos homens sensíveis frente às agruras do poder e da condução de um reino!