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"Concreto"

Pedra, barro, massa     Mão, calo, amassa! Levanta parede  No ar  D a hora Que se levante! Mora dentro     F ora   Vi...

terça-feira, 17 de março de 2009

Palavra

Cantada ou encantada, dita ou bendita,
Áspera ou carinhosa, lenitivo ou punhal!

Na falta do sentido de existir
Ficamos atentos às possibilidades de felicidade
Do momento
Falando, escutando

Tentamos decifrar o mistério
Do mundo

segunda-feira, 9 de março de 2009

Carta ao amigo do Marrocos

Rogério,

Estava para te escrever faz tempo, contanto da minha vidinha. Tenho tido tempo, mas esqueço um pouco do Marrocos por reação.

Cozinho, cuido da casa, dos meninos e da mulher, das burocracias típicas de um desempregado (um pouco especial: se eu fosse demitido tinha mais o que fazer, mas oficialmente me demiti, com isso eliminei o seguro desemprego), mas sobra tempo... Leio muito: dois jornais e internet todo dia, revistas, Sócrates e Wilhelm Reich ("análise do caráter", profundo e pesado, mas ajuda na psicoterapia que estou fazendo: só sei que nada sei e conhece-te a ti mesmo). De noite tv: jornais nacionais e BBB10, só para ser igual a milhões de brasileiros. Mas não vejo novela: nem Caminho da Índias nem Negócio da China...Supermercado, detran, Bradesco saúde e agora Sul América (é amigo, saí do quentinho da tia Bunge), cooperativa de crédito, Bradesco, Caixa e Mapfre, Bunge Prev, Price (isso vai levar um ano, só acerta no IR do ano que vem). Cinema sempre que dá, amanhã cedo deve dar show de MPB (Dia da Mulher! no Ibirapuera, só moça bonita e afinada! Mariana Aydar, Verônica Ferriani e por aí).

Semana que vem começo a fazer as primeiras entrevistas de emprego, já terei duas!

Como não quero sair de São Paulo, talvez eu saia dos fosfatos. Fábrica de artigos esportivos, peças de borracha para carros, mas tem química e engenharia também (Promon=Fosfértil: a ver).

Em São Paulo (na maior parte do Brasil) recordes de calor, grandes chuvas, o normal do verão, do fim do verão. Amanhã minha sogra faz setenta e teremos festa aqui (bacalhoada, pavê, trabalho com prazer). No fim de semana passado casa da minha mãe em Campinas: irmãos, piscina e churrasqueira no jardim. Massa real, lavo a alma cada dia.

Mudar sai caro: perdi grana, perdi trampo. Mas o caminho deixado estava indo na direção errada: todo vento é contrário para quem não sabe onde vai.

Agora sei: meu lugar é junto dos meus.

Siga firme e espero te encontrar em breve.

E "a demain que eu vou em frente!"

Roberto

terça-feira, 3 de março de 2009

Minúscula Carta ao Pai

Nem Kafka nem Borges, homenageio aqui o querido Seu Alexandre nos 25 anos de sua morte...
"Papai,
Faz tantos anos que não te chamo assim...sinto-me o seu baianinho, seu bundudinho, andando sem mexer meus pezinhos sobre seus pés, nossas mãos grudadas e você indo prá frente e eu indo de costas, coisa que depois reproduzi com meus meninos.
Lembro também do rio grande que cruzamos eu e o Xande em suas costas, a correnteza te arrastando e você com medo, mas deu tudo certo!
Lembro dos seus gritos para eu me afastar do pixe quente com o qual você colava os tacos soltos lá de casa da Gonçalves Dias em Marília, lembro da sua palmatória para o Tio Ricardo ir melhor na escola e umas surras que tu me destes também.
Mas hoje penso mais no carinho de pai.
A vez que usei uma chave quadrada que abria a porta do nosso banheiro na Rua Bandeirantes e te peguei cagando distraído no vaso (era para ser o Xande nas minhas contas). Morri de medo de apanhar; você riu, me acolheu e tirou o medo. Você era capaz de alegrias!
E nossas viagens de jipe nos entornos dos Rios Tibiriçá e do Peixe, a abertura da estrada Marília-Ourinhos lá nas Serras de Oriente e Ocauçu, as idas ao Hotel de Campo de Campos Novos Paulista. Lá dormimos algumas vezes e em outras tantas fizemos pequeniques dirurnos com o Doutor Eládio, Dona Lourdes, o Henrique, o Eladinho e o Eudoro! A represa grande com vertedouro, uma égua a atravessando a nado, o Dedo de Deus lá nosso (parecido, mas muito menor que o carioca).
E os encontros rurais (desafiadores para os sapatos de cromo dele, tão urbano) com o Moraes e Aracy e as demais professoras dos parques infantis onde a mãe trabalhou.
Sabe pai: nós crescemos! Não fomos tudo que você esperava, talvez tenhamos sido mais um pouco, mas nada disso importa. Vamos já para os cinquenta, a Inês em 2011, seu caçula, o Maurício, mouro, ainda no equinócio dos trinta para os quarenta, mas todos já "formados" seja lá isso o que queira dizer.
Uma pena você não estar aqui para ver seus netos!
Queria te dar esse abraço e te apresentar a Kátia, minha companheira (depois esposa) de já vinte e tantos anos e meus meninos, o Ariel com quinze e o Gil com doze!
Mas é tão difícil te encontrar (impossível dirão os materialistas como eu!) depois de tantos anos da tua morte! Tua presença é a tua tão grande ausência, tanta falta você (nos idos tempos eu só poderia e teria coragem de dizer: "o Senhor") nos fez.
E assim arrumei meus pais sociais, meus amigos que supriram um pouco sua falta: o Moraes, o Doutor Eládio, o Caetano, o Paul, e tantos outros, os tios e primos mais velhos, e também as mulheres que me supriram de afeto e alguma grana (a vó, a mãe, a Inês, as tias quase todas).
Tanta gente ajudou seu filho em seu nome ou em meu próprio que o senhor se orgulharia de como eles nos queriam bem e também repartiram comigo a dor da tua morte violenta.
Pai, fica com Deus e nos abençoe!
Um beijo e um grande abraço do seu ex caçulinha
Beto"

PS: Alexandre de Cerqueira César foi covardemente assassinado com seis tiros "pelas costas" (sendo que um atingiu a cabeça, acho eu) em 24 de Janeiro de 1984, na cidade de Assis - SP, por um "gato" de alcunha Maracaí (que infelizmente foi condenado e j´saiu da prisão há muitíssimos anos e deve andar solto se não morreu de "susto, de bala ou vício"), enquanto cumpria o dever público de Fiscal do Ministério do Trabalho. REQUIESCAT IN PACE!