Postagem em destaque

"Concreto"

Pedra, barro, massa     Mão, calo, amassa! Levanta parede  No ar  D a hora Que se levante! Mora dentro     F ora   Vi...

domingo, 3 de outubro de 2021

Meu primeiro dia

A psiquiatra do Prevent nem olhou na cara. 

Em 10 minutos receitou oxalato de escitalopram por seis meses e um sonífero de hemitartarato de zolpidem todo dia.

Rasguei as receitas e dei um foda-se!

Quero segunda opinião. Talvez terceira.

Quero só psicoterapia e terapias alternativas. Vou voltar na yoga e fazer nem que sejam sessões diárias até des-obssessivar.

"Sujeito de sorte", Belchior

"Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro

Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro"


Comprei livros a mancheia. Sinto que a vida se infunde de novo.

Vou arrumar trabalho para a o resto da vida com os russos da Eurochem!

Vou construir uma empresa nova e importante, organizar suas pesquisas, desenvolvimentos e projetos.

Vou morrer velho e feliz!

quinta-feira, 27 de maio de 2021

Meu último dia

Quando este último dia chegar, os inventários e testamentos deveriam estar prontos. 
Pode ser susto, bala ou vício, aneurisma, o câncer, pode ser enfarto ou avc, pode ser o ônibus desgovernado, o acidente automobilístico. Não importa. 
Há dois herdeiros de fato e direito e familiares e pessoas amigas ou credoras a atender nas sucessões.
As coisas de guardar, as materiais, isso se virem como possam.
Vamos lá.
Primeiro um inventário das coisas falidas. 
Um casamento, uma carreira, uma paternidade, uma humanidade.
Não, nem é pessimismo auto comiserativo nem nada. 
É só para começar a lista de erros, de pedidos de perdão, de reconciliações possíveis ou não.
As vivências vividas e a herança de todos outros que caíram, fossem como aroeiras que tombam mas não vergam, como paus podres e secos, mas que foram até o final (vós e vôs, tios e tias, amigos, parentes e conhecidos que foram) ou que ainda aí estão, principalmente o irmão que enfrenta um dilema no que poderia ser dito ainda o "auge", essas vidas idas e por ir, me trazem aqui contrito e envergonhado.
Sei que andei errado.
Há um dragão da maldade a combater, há um genocida, há uma falta de crença no sentido positivo da história e da humanidade a desfazer. Há um país que sonhamos construir. Há conquistas passadas a refazer, a reconstruir.
O resto era o meu chororô, minha falta de bossas novas e frevos e jazzes, meu Thanatos vencendo Eros. Minha derrota moral a me levar a maltratar o corpo esperando lá do fundo que a morte se desse não por meios ditos violentos (mas igualmente deletérios), mas por um abcesso mal curado ou uma síncope repentina, passivamente, uma carne velha apodrecendo sobre uma cama com cheiro de hospital e meias e roupas velhas, sujas e mal lavadas.
A covardia da gente é uma chaga. Pensa em Alexandre o Grande, em Ogum, num gladiador, num Ijucapirama, na sina de guerreiros que fomos, no arado torto, nas fazendas e onças grandes e jacarés açus que já enfrentamos. Busca num sangue mítico o que te aprouver, mas lute.
Que fique bem claro, meu excesso de lusitanismo e iberismo só não me faz passar mais raiva de mim e ter autodesprezo porque também sou (as proporções, os mais e menos já pouco importam) o preto, o índio, o judeu, o árabe, o romano, o germânico e o eslavo. 
Respeitem meus cabelos, meu nariz e minha bunda. Por esses olhos que a terra há de comer.
Então aqui abrem se as folhas de ata de novo do escrivão R.
Aos vinte e sete dias do mes de maio do ano da graça de nosso senhor Jesus Cristo de 2021, 3o de Bolsonaro, vinha à minha presença esse bosta, esse nada, passar, ou tentar passar, a régua numa existência pífia, deveres e haveres, passivos e ativos.
Antes disso tinha que alertar os filhos que, se o mel coado era pouco, a esperança pregressa tinha sido gigantesca. Um pai pare seus filhos para seus filhos lhe parirem. 
Em bons momentos (como esse em que já foram de caligrafia e tintas e agora é em computador mais ou menos, teclado desgastado, tevê não nova servindo de tela para aumentar o tamanho da fonte, já que miopia e a presbiopia te consomem a acuidade já de longe, com algum astigmatismo e um pouquinho de estrabismo), nesses momentos eu era o ser que se julgava imortal, que achava que esse blog ia ser lido (e ao mesmo tempo, que fosse uma mensagem na garrafa, que o fundo do mar a levasse para nunca ser encontrada, sem nunca ser entendida pelos peixes e outros seres frutos do mar.
Afinal a ideia da imortalidade nos era cara, muito humana. Judeus, cristão, muçulmanos, kardecistas, umbandistas, todos religiosos estavam aí para vender céus e infernos e purgatórios e karmas e dharmas e aruandas e umbrais e outros lugares para onde iam almas já como que sem corpo, mas muito conscientes e, se desse certo, já liberadas de culpas e apegos. Seres de luz, dizem.
Não. Não quero ter ilusões. Só quero passar vivo pela pandemia, pela ditadura que se estabelece. Preciso cantar e dançar para dizer que há sim um novo dia, uma nova esperança. Nem que seja para um dia um esperançoso tomar a nave do Elon Musk e ir fuder com outro lugar depois de termos com a santa burrice arrogante estragado a Terra.
Quero dançar com você. Já vem as quatro da matina. Vou ter sono de dia. Mas a mente acelerada não concilia o bom sono. Crise de ansiedade braba, pânico eu tenho conseguido evitar. Rivotril pra que?
Medo, muito medo de morrer. E medo de viver. De pegar covid, de montar no carro, de atravessar a rua, de subir a ladeira e descer pro centro, a pé, de bicicleta, de ir no Vale, voltar à cidade da infância, ir na praia, pegar um barco, um avião, rever Cubatão, rever a Santos da minha mãe. 
E ao mesmo tempo, ganas de cuidar da fazenda, das casas de aluguel, arrumar os armários, comprar novas roupas, escutar novos "discos", escutar velhos discos, conhecer novos museus, voltar nos conhecidos, arrumar uma namorada legal.
Quem tem plano tem vida. Quem tem vida vai morrer. 
E aí, na hora de ir encontrar Deus ou o nada, já os planos não importam mais. 
O que foi foi. Que aqui fique. Precisamos aprender a ter alegrias na velhice e morrer em paz.






sábado, 6 de março de 2021

A crise de 2008

 Bill é um "white trash" bêbado que se congrega no bar do John, em Tickville.

Como Bill tá bem fudido e o John fez uns guardados no passado com ele e outros vizinhos, John aceita abrir uma "caderneta" para financiar o Bill e os outros bêbados da Vila Carrapato.

O filho de John, Gordon, que acabou um MBA viu que o pai tinha muitos recebíveis (as tais cadernetas dos bêbados irresponsáveis e deprimidos da vizinhança). 

Falou com um amigo dele, que era dono de uma XP da vida, que vendeu um monte de opções encima daquele recebíveis.  

De repente eram bilhões lastreados em contas de pinga impagáveis de bêbados falidos!

A tempestade perfeita

 Elegemos o Coiso e ele irresponsável.

260 mil e crescendo, eram mil por dia e agora serão 2 mil.

Vai faltar de tudo um, as equipes de UTI´s vão se esfalfar, não sabemos onde o caos vai dar.

É impossível fazer lock down rigoroso, já que somos irresponsáveis também.

Estaremos um pouco à própria sorte. Vai ser um grande morticínio e os danos pessoais e coletivos são ainda incomensuráveis. 

É isso aí que temos pela frente.

Vou tentar manter manter minha sanidade física e mental, ser forte e saudável.

Te desejo o mesmo.

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Dois mil e vinte e um

O diário aqui está mais esporádico que nunca.

Não tenho o talento suficiente para descrever o que está se passando, nem para criar uma forma de arte que nos ajude a escoar dela.

Lula era o grande ladrão da pátria, diziam, para depois eleger (sim, quem apoiou golpe "elegeu" Temer sim) o "honesto" do Temer e não satisfeitos, entre Fernando Haddad e um tipo boçal e bandido das periferias do Rio, escolher esse.

Não tem vacina, se tiver vai ter antes para pagar ali no Dasa ou quejandos. Assim vou me aguentando. Sem namoro, sem cinema, sem uma vida "de rua" que tanto me faz falta.

E sei que não posso reclamar. Homem, heterossexuais, branco, remediado.

A popularidade do Coiso até cresceu, sei lá porque, temos usado o termo necropolítica suicida, já que a política mata pobre é aplaudida até pelos pobres. E os ricos, tirando os que concentram renda mesmo na crise (a bolsa tá bombando), estão criando um país meio que insuportável, para curtir suas férias ali nas periferias da Flórida (nem Paris essa gente gosta).

Sem inspiração, meio sem respiração. A vida é sopro. Puxo ar e vou pro fundo!

 

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Meus avós e meus tios paternos

Meu avô Luiz Egydio de Cerqueira César nasceu em Piraju em 26 de Outubro de 1895. Aos oito anos acompanhou seu pai, Joaquim Egydio de Cerqueira César (Quinzinho) e sua mãe Ana Flora Braga numa épica mudança, em julho de 1906, quando a família (pai, mãe e quatro filhos: Ernestina, Luiz, Paulo e Iracema) deixou Botucatu e foi de trem até Uberlândia e dali partiu a cavalo até a "Vila Boa de Goiaz", como era chamada a cidade de Goíás, também dita "Goiás Velho". Foram 15 dias de cavalo, travessia do Parnaíba em balsa precária e com vento forte, campos preparados, invernadas, serras, vales, rios, bandos de siriemas, as palmeiras de guariroba e tantas outras, outras vistas e relevos, a Mata Atlântica virando Cerrado, outra a vida a começar, famílias e autoridades a se relacionar, a saga-sina nossa de migrar tava já no sangue desse Quinzinho. Saudades das terras paulistas sempre, mas a disposição pra crescer e multiplicar. Lá no Goiás nasceu o 5o filho do casal Quinzinho e Ana Flora, a tia Ana Cândida (Nicóta * Goiás 2-1-1907 +Mineiros 22-7-1910).

A família mudou-se em 1910 para Mineiros (mais 400 km a cavalo, outra saga bandeirante sertaneja), onde meu Bisavô Quinzinho foi tabelião e, nas horas vagas, professor. Minha tia Ernestina com 15 anos montou escola para meninas (cujas algumas alunas de longe moravam na casa da família da professorinha). Em 27 de Maio de 1910 nasceu o 6o filho, a tia Ana Flora de Cerqueira César (Tia Florinha). 

Meu bisavô ficou em Mineiros até 1923, plantou cana, montou engenho, plantou fumo, fez fumo de rolo, casou duas filhas (Ernestina e Iracema) com dois irmãos Pereira de Castro e então começou a volta dessa minha gente ancestral para São Paulo...e depois a busca de terras pelo Luiz, até tudo vir a confluir numa tal de Fazenda Floresta no rumo de Avencas, distrito de Marília.

Tá, então tenho que contar a história do meu avô. Luiz Egydio fez uma série de peripécias já no Estado de Goiás. Foi menino ajudante de tropa de burro, subiu de Goiás pelo atual estado do Tocantins, pelo rio de mesmo nome, mais burro e perna e canos até descer o Mearim, foi pra São Luís, tomou um ita no Meio Norte, desceu quase mês depois no rio e voltou pra casa de trem e cavalo. Casou-se em 1916 com minha avó Claudimira de Oliveira (dá prá escrever dez livros sobre a família dela, os Carrijo Rezende fundadores de Uberaba, Uberlândia e Mineiros). Vô Luiz foi comerciante em Mineiros e no Garimpo do Rio das Garças no Mato Grosso, veio prá São Paulo em 1923 e foi comerciante em Icém e agricultor em Bauru. Foi prá Marília em 27, comprou a tal Fazenda Floresta, plantou café e depois levou seu pai e sua mãe para morar com ele e a família.  

Nasceram então dessa união do Luiz com a Claudimira o Tio Eduardo (Mineiros, 1917), o Tio Clóvis (Mineiros, 1919), a Tia Julieta (Mineiros, 1920), o Tio Erasmo (Mineiros, 1921), a Tia Iracema (Icém, 1922), a Tia Cóta (Bauru, 1925), o Tio Renato (Marília, 1930) e Alexandre (o meu pai; Marília, 1932).

Meu pai foi o primeiro que se foi, em 24 de Janeiro de 1984, pelas mãos de um fascínora de alcunha Maracaí. Ontem foi a Tia Cóta, depois de uma longa luta contra uma demência que só lhe afetou o físico muito recentemente (lembro de conversar com ela tipo uma década atrás e ele ter memórias profundas que repetia, esquecimentos de fatos triviais, mas sobretudo a memória da mãe e mulher e professora que ela foi). Foi uma mãe pra mim também. Sua voz maviosa vai sempre cantar para mim.

Não sobra mais nenhum dos filhos do Luiz com a Claudimira (tou feliz porque os filhos da Vó Eugênia tão ainda respirando bem e forte espalhados por aí, mas ainda centrados na Cida, no Paulo e no Zeca e na Lúcia lá perto das nossas raízes marilienses). Vô Luiz nasceu em 26/10/1895 e a última filha dele com a Claudimira se foi ontem (11/10/2020). Foram 125 anos entre ele nascer e o último filho vivo dele partir. Eu gostaria de ter um alcance de vida desa magnitude, tantos filhos hoje já nem sei, tantos netos nem pensar! Gente demais ele dizia, atribulava a velhice dele, preocupado com a moral, os bons costumes e o sustento de cada um, à maneira dele.

Os parentes vivos, principalmente meus primos irmãos (Paulo, Maria Luíza, Guto, Júlio, Hélio, Ana Cristina e Luiz) recebam o abraço forte e o beijo do primo já distante. O que herdo são os ensinamentos de tudo (de culinária, música, trabalhos manuais, à redação e matemática, mas sobretudo o amor de acolher tantos filhos, noras, genros, sobrinhos, amigos desses e todos outros e dar a eles o de comer e o de beber ao corpo e ao espírito, com o beneplácito do Rocão). Valeu Tia Cóta!

domingo, 11 de outubro de 2020

No dia que a tia Cota se foi, um textinho sobre o irmão mais velho dela.

 Cerqueira César, o pracinha de Marília

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

"O povo de Marília" agradece, ao menos no monumento no centro de sua praça, ao coronel Edoardo Cerqueira César, "o pracinha".
Que nasceu em Mineiros de Goiás (GO), filho de "agricultores sem fazenda" que chegaram a Marília no fim dos anos 1920, "quando era ainda um sertão de onças".
Ele quis seguir a carreira militar e foi estudar no Rio. Virou aspirante em 1943 e foi para a zona conflagrada de Natal (RN). Voluntário, chegou ao front em 1944.
Dizia que não matara ninguém. Mas lembrava do barulho seco de milhares de botas inimigas, aproximando-se do pelotão de 36 pracinhas em Livorno, na Itália, quando foram surpreendidos pela bandeira branca, sinalizando a rendição da divisão alemã.
De volta ao Brasil, seguiu a vida militar e reformou-se como coronel. E virou fazendeiro. Com a bonificação dada pelo governo, comprou um sítio, que nos anos 1980 encheu de búfalos de Marajó.
O tempo da velhice, preenchia com leituras de história. Da guerra trouxe um símbolo do fascismo arrancado de um prisioneiro, e a bússola e o binóculo usados em combate; que os filhos perderam. Intacto, só o Monumento ao Expedicionário Brasileiro, ainda hoje no centro da principal praça de Marília. Um a um, o viúvo levou os oito filhos e 18 netos para vê-lo.
Foi internado por uma pneumonia e morreu no dia 11, aos 90 anos, do coração.