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quinta-feira, 11 de março de 2010

Natal 1984

Quase só pessoas sozinhas estavam pelas ruas, além de famílias indo ou voltando de viagem. Eu estava num boteco sujo na frente da ferroviária de Campinas. Podia ver as luzes coloridas da decoração natalina circundadno a torre com relógio da estação.
Chovia e eu esperaria ainda mais de uma hora para pegar um trem para Marília. Com um pouco de sorte conseguiria uma poltrona e dormiria a viagem toda. Meu corpo estava inerte pelas noites mal dormidas e pelas caminhadas.
Os carros passavam na rua a poucos metros da mesa onde eu estava e às vezes não se ouvia a música que vinha de um alto falante pregado na parede. As vozes aumentavam o burburinho.
Muitaspessoas deviam estar de ressaca. Como era de se esperar, as caras não eram muito alegres atrás das garrafas de cerveja. Uma menina um pouco suja ficava atrás do balcão, entre notas velhas e sanduíches.
Como em todos feriados, havia menos motivos para se mover. O compasso de espera que dominava o país era mais sensível naquelas caras inexpressivas e roupas dominicais.
Na rua ao lado havia prostitutas esperando capturar um quinhão dos décimo-terceiros salários dos pedreiros, bancários e quem mais se dispusesse.
Um viado com calça branca e camisa havaiana me cobiçava dentro do bar. Enquanto isso eu pensava numa mulher nova, carinhosa, interessante e interessada. Alguém para passar as noites e dias em ambientes não tão depressivos como aquele.
Um cara meio bêbado bradava que estávamos num ótimo país eqnuanto um mascate tentava vender bijuterias de plástico fosforescente para uma ou outra puta e para a balconista. Houve até um certo brilho na carinha desa última diante da visão das mercadorias. O "não" indicava a falta de condições para supérfluos naquela hora.
O dono do bar limpava o suor engordurado da testa com um guardanapo de papel. O mascate, agora sentado, olhava fixamente para bunda de uma negra alta que estava à sua frente.
O movimento era constante. Uma mãe comprando jujuba para o filho. Um loiro meio gordo com camiseta do Rock in Rio comia espetinho de carne duvidosa. A propaganda do Rock in Rio estava quase no auge. Dentro de mais alguns dias boa parte dos brasileiros saberiam detalhes e quase tudo do grande festival e se esqueceriam de do que mais pudesse se passar naqueles tempos. Mais dois meses e seria Carnaval, depois recomeçariam os campenatos de futebol, o cotidiano massacrante já escrito para mais muitas décadas.
Agora eu ia sair dali na constante andança. Não ficari muitos dias em Marília. Só ia ver gente conhecida e depois viajaria para uma praia.
No balcão um rapaz vomitou e decidi sair.
Eu ia continuar lutando para não ter um destino escrito para as póximas décadas!

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