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sexta-feira, 19 de março de 2010

Parece que acabou mesmo 1986

Depois não sei dizer como foi que passaram aquelas segundas terças, quarta fora ontem e agora quintatarde tonitroando voazes de insatos voradores. Cela, essas nossas vidas são, velas, tela onde a vó chora a morte do netinho, diz que reza muito por ele, sonham a mãe e o pai, ele e seus irmãos e os irmãos dos outros. Somos uma grande família: ou aprendemos a conviver ou estamos fudidos. Não sei se quero ou não. Por enquanto ia bem achava, amanhã partia, rescisão do contrato, fundo de garantia, aviso prévio, aulas de carro, os exames todos, naquele dia de manhã a menina loira muito insegura derrubou o bastão, comigo não houve nada, amanhã sai o documento à tarde, de noite tem trem, minha mochila, oito meses de Marília, tantos e tortos, são duzentos e quarenta dias, afinal não é tanto tempo assim, passagem, o suficiente e o necessário, livros na bagagem, planos de lê-los em dias e noites enormes infinitudes de vida, duradoura, tinha então vinte e poucos, podia morrer a qualquer hora, uma fatalidade era o estarmos. Cuidar de vasos, conhecer muitasmulheres e muitos homens, muitos lugares a vida inteira para, praias, cordilheiras, rios enormes, desertos, cidades. Bares, camas, chuveiros e piscinas. Ler, escrever, trabalhar de leve, beber, comer e transar, fumar um pouco. Som, cascata de cachoeira derramando água gelada na cabeça que pensa inconscientemente muito mais do que pode a sensibilidade aguçada captar. Isso se tinha que acostumar, a vida correndo e a gente tomando flashes, não são cacos às vezes, tem uns momentos de prazer, um sonho de tesão social e individual, humano. Odorico perguntou se eu vou votar... Eu, sim, tomo vacina, sou habilitado, voto! na noite de são lourenço eu faço um pedido para uma estrela cadente e passeio nos anos quarenta da vila ocupada de San Martino, campos itálicos, de moças e outras gentes, no dia de hoje o Aguirre cólera, torpe, trôpego, poderoso, rola uma cabeça e muitos corpos nessa américa insepultos, não lamentados, aliás nem precisa lamentar desde que cuide dos que há, do aqui agora.
parece que acabou mesmo.
foi o fim de nada só para parecer que algo está concluído, marco aleatório, muda o lugar. R. subiu no trem e foi, kátia ainda passava nas manhãs do semestre que vem, a noite aulas, nada disso, R. viu um boi e já tinha pensado tudo aquilo, sabia o que era, conferiu a carteira no bolso abotoado, as malas firmes, tirou seu míope óculos grosso dos olhos , fechou-os e dormiu profundamente.

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