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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Data estelar equivalente a 2 de 2 de 11

Todos me estranham, mas do planeta que vim sou um cidadão normal.
Estou bem adaptado. Minha identidade "lunática" (não, não sou selenita, meu planeta ainda não foi catalogado pela "primitiva" ciência de meus irmãos terráqueos) é tão bem mantida que aqui na Terra me chamam de Roberto Corrêa de Cerqueira César, tenho uma família completa e numerosa, lôngeva e próspera.
Agora mesmo estou em Jacupiranga, a passeio, no Hotel Edumar. Minha mãe e minha tia dormem no quarto ao lado. Saí para fumar e tomar banho de chuva, estava um calor que até meus primos venusianos estranham aqui no Vale do Ribeira. 30 graus de madrugada, melado como um porco, tinha acabado de me esbaldar em batatas suíças, cerveja e vinho com morango do Verdespaço de Pariquera Açu, onde não tinha vaga na Pousada da Suely...
Saí para beber chuva (outro hábito normal em meu planta natal). Atrás da praça me deu uma pissirica de bacalhau com palmito e larguei um barro. Uma limpeza cidadã: a bosta sobre uma folha larga de chapéu de sol (sete copas, coquinho ou chapéu de praia), a folha enrolada como um canoli cremoso (não, em meu planeta não somos coprófagos, mas devo admitir que o chococolate recendia "bem", como diria Maimônides, e aparentava ainda mais puro e saudável). O "charuto" voou pelas minhas mãos sobre a cerca em frente, no outro lado da rua e pousou, natural, sobre o pasto. Nem uma gota (deveria dizer:) foi "cagada" no bloquete sextavado da praça, nem cheiro nas mãos me ficou (mas como no meu planeta sou pobre e limpinho) por via das dúvidas me lavei no banheiro do hotel antes de vir mal traçar essas...
Muitas folhas novas de sete copas, ainda molhadas da chuva, novas como brotos que realmente são, a me sevir de papel de toalete, úmidos, suaves como folhas novas e suaves que realmente eram!
Desculpem a digressão.
Mas voltando, depois de perder o sono e de me aliviar, pude apreciar janelas abertas, plena madrugada, baixas, sem grades, que se abriam para a Pracinha centenária (com uma linda igreja de uma torre só, pois a outra ia ser construída em 1888 e os escravos foram libertados (sim, eram eles que a erigiam) e ela ficou incompleta até hoje). Mas a Igreja e a Pracinha de Jacupiranga são completas. Com meu scaner cerebral pude ver as pessoas dormindo, ventiladores ligados, muitos, a claridade de sódio das ruas do entorno furando as janelas e lhes batendo nas caras, as respirações dificultadas mas alegres, as vidas apenas dormitando no desconforto de calor, mas pulsando forte no pedaço "mais pobre" do Estado de São Paulo.
E aí que vem o espanto do extra terrestre "naturalizado" paulistano que sou!
No meu planeta são os ricos que dormem de janela aberta e sem grades, são os ricos que tem frente à suas casas pracinhas como as de Jacupiranga, e Pariquera Açu, modorrentas, quentes, imemoriais como os musgos que lhe nascem por cima e imateriais, como eu as trago aqui dentro da alma.
Porque "Jacupiranga nenhuma se iguala à Jacupiranga que trazes intacta na memória sem a ver!", só para parafraser um outro que veio de meu planeta, Walyd Salomão!

2 comentários:

Gil Cardoso disse...

Que lixo de post, você deveria se envergonhar.

Roberto Cerqueira disse...

Gil, meu filho!
Sendo um "desavergonhado", nada tenho a me envergonhar, nem mesmo meu filhote vir aqui no blog falar mal de mim! Revelar que seu pai, um "extraterrestre", se refestela, sofre e saboreia a experiência humana que lhe é dada de forma nenhuma me envergonha. Fico um pouco triste por um que saiu de dentro de mim não me compreender, mas faz parte dessa natureza híbrida que carrego.
Um beijo do seu querido pai
Beto