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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Ao sul da Fronteira II

"Ao sul da fronteira" é, mais que um documentário, uma propaganda. Mais que revelar uma realidade objetiva, pretende mostrar um recorte ideológico consciente dela.
Esse comprometimento político não faz do filme de propaganda um gênero mais nobre – a causa defendida nem sempre está à altura da grandeza da arte. Também não o torna algo menor do ponto de vista artístico.
Oliver Stone entende de seu ofício. "Ao sul da fronteira" parece um documentário tradicional, daqueles que alternam entrevistas com imagens de arquivo do objeto documentado – aqui, a guinada da América Latina rumo à esquerda nos últimos anos, principalmente a trajetória do polêmico presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
O diretor usa de todo seu arsenal de truques para envolver o espectador além da relação mais racional e objetiva que o jeito de documentário frequentemente constrói.
Ao tratar da resistência ao golpe contra Chávez, por exemplo, coloca ao fundo um tema musical heróico – exatamente como faria, por exemplo, ao construir uma cena de resistência numa obra de ficção (como no fim de seu Nascido em 4 de julho).
A maior parte do material que resultou em "Ao sul da fronteira" foi rodado no fim da administração de George W. Bush. Imagens e discursos de Barack Obama, apresentados no fim do filme, dão a ele um caráter de porta para o futuro, colocam o novo presidente norte-americano como uma espécie de fruto da mesma tendência que levou ao governo os outros líderes retratados na película, como Chávez, nosso Lula ou o boliviano Evo Morales.
Mesmo assim, "Ao sul da fronteira" é nitidamente um filme anti-Bush, opondo-se a um tipo de discurso sobre a América Latina e seus líderes, que predominou nos Estados Unidos durante os oito anos da administração do presidente republicano.
Essa datação, contudo, não impede o que talvez "Ao sul da fronteira" tenha de mais precioso – o registro de olhares antagônicos sobre a América Latina. Logo no início do filme, Stone apresenta fragmentos de telejornais e programas de entrevistas estadounidenses sobre o continente e seus líderes.
Por mais que se saiba da péssima qualidade da informação que o estadounidense médio tem sobre seus vizinhos, é surpreendente – e incômodo – perceber o quanto os profissionais de comunicação dos Estados Unidos se deixam manipular por versões governamentais ou mitos (ou o quanto são ignorantes mesmo).
Oliver Stone contra-ataca, por exemplo, estudando a fundo a edição das imagens e notícias que levaram o governo americano a apoiar o golpe contra Hugo Chávez. Em processos como esse, "Ao sul da fronteira" contrapõe seu discurso sobre a América Latina – e o dos presidentes de esquerda no continente – àquelas versões. E, mesmo com a edição necessária ao filme (ou exatamente por ela), o primeiro é muito mais convincente.

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