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domingo, 20 de setembro de 2009

Jangada

"É doce morrer no mar". Dorival Caymi
Mas é muito mais doce entrar e sair dele quando quero!
Fui prá bordo de uma jangadinha, a "Roberta Cristina" que vem a ser a filha do mestre dessa, o José Roberto Silva, jangadeiro da Pajuçara. Dizem que os índios as copiaram dos portugueses, que as chamavam de xangas, de Xangai, por sua origem chinesa.
Os tupis nos antigamente usavam paus roliços para as fazer, as mais tradicionais com seis paus (duas mimburras, dois bordos e dois paus de centro). Hoje se usa isopor mesmo, graças à dona Basf que nos deu o poliestireno expandido. Depois é que botaram vela e sofisticaram os acessórios. Hoje vai samburá, rede de todo tipo, varas de pesca e linhadas, tem uma que tem viveiros para as iscas irem vivinhas para as bocas dos peixes grandes. Há jangadas de vinte braças, que levam seis homens por vinte dias no alto mar, e voltam às vezes com atuns de cem quilos cada, xaréus maiores que homens e por aí afora.
Passaram a se chamar itapaba, piperi, igapeba, catamarã, candandu e hoje burrinho, bote, catre e paquete.
E mais informação vou lhe dar: a prancha ou piso era feita de tábuas de boas madeiras, hoje de fibra de vidro ou compensado. Coisas da indústria plástica, do século vinte.
A vela (ou pano ou cutinga), triangular, de algodão rústico e forte, fica apoiada no mastro e se "fecha" com a tranca ou retranca, apoiada no mastro pela munheca. Quando se enfuna, há uma "pá" especial que pega água do mar e a molha, para favorecer, encharcando-a, a "impermebilização" da trama do tecido ao vento, aumentando a velocidade.
O mastro se alinha pelo banco de vela, por sua vez sustentado pelos pés do banco de vela que se apóiam nos mancais, tudo amarrado por cordas enroladas como as de forca, as peias. Entre os mancais, a tábua dos furos onde se posiciona a parte inferior do mastro, cada posição, das normalmente onze (uma no centro e mais cinco dee cada lado, repartidas simetricamente), sendo indicada para uma combinação de direção e força do vento com direção e velocidade que se quer imprimir à jangada.
Ali perto tem o furo da bolina que obviamente é o furo da bolina, aquela quilha que dá mais estabilidade lateral à frágil embarcação. A salgadeira é uma prateleira ou estante, pode até ser fechada com tampa, onde se carrega o sal e por extensão as coisas salgadas e coisas secas.
Aquele remo esquisito se apoia nas fêmeas do calçador para ir zingando,como chamam sua remada, de pé ou no banco de comando.
Em volta da prancha fica a borda mesmo, um ressalto de uns 10 cm de madeira, vazado de metro em metro para a água das ondas passar e não a encharcar.
E dá-lhe carninga (peça de apoio no piso, do francês carlingue), espeque, calços de bolina, toletes, forras, cavilhas, carretilhas, poitas ou âncoras, etc.
É doce aprender palavras e significados.

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