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terça-feira, 23 de abril de 2019

Demanda, ou coisa mandada

Meti a Vale no pau.
Pedi peri e recebi hora de almoço.
A Vale vendeu.
A Yara que pague.
Vou pegar meus 70% e viajar.
Voltar à Liège, El Jadida, Lakeland, Cajati, Catalão, Cubatão, me meter em João Pessoa e Natal, em Manaus, e Rio Branco, em Macapá, quiçá, em Palmas e no Jalapão, talvez na Campos Belos do Marten. Bonita e Cuiabá, CampoGrande e Cáceres. Porto Velho e Boa Vista.
Um dinheiro pré aposentadoria.
Aos pés do fim da vida.
Terceira idade.
55 esse sábado.
Aproveitar enquanto o dente não cai, o cabelo não cai e o pinto não cai. A mente. O físico.
Aproveitar enquanto respiro, ando, durmo até que bem.
Enquanto não sou pobre, um vagabundo feliz, envelhescente.
Vai vida ser gauche.
Vai Raimundo que é rima pobre de mundo.
Vai Ramalho que é rima do baralho.
Vai Roberto, não te quero perto, digo, vai.
Como falou o Waly Salomão, perambula.
É teu único talento.
Vai ser peripatético.
Vai arrastar tua corrente antes que a bruma seja carne e o esquecimento o legado.
Silêncio mineral.
Não me queime nessa Vila Alpina.
Me enterrem na beira de um rio, talvez num campo santo como aquele de Savannah.
Deixem os micro e macróbios roerem e putrefarem essa carcaça que então já não será minha nem fará falta.
Quero os fantasminhas camaradas ao lado.
Se tiver, que venham espíritos de luz, alegres e inteligentes.
Por que de gente chata já basta nessa Terra de meu Deus do ateu.
Daqui prá frente o jogo já passou dos 45.
É tudo acréscimo.
Vamos jogandinho.
Quem sabe sai um golzeto para alegrar.
Mas nem precisa.
Gosto da partida.







2 comentários:

Maurício Corrêa de Cerqueira César disse...

Entendo suas palavras
Admiro sua entrega
Gosto da imersão profunda
Só não atrai os excessos
Assusta pensar o telefone tocar
Vou avisar sobre a Vila Alpina
Seria mais fácil para descansar em Savannah

Roberto Cerqueira disse...

Aí então, se não meu epitáfio, a parcela mórbida do testamento.
Façam um enterro mussulmano ou judeu.
Com toques de hinduísta antes da pira no Ganges.
Me enrolem nu num grande lençol branco de algodão.
Carregurem numa vara à moda colonial, como uma rede.
Sem caixão de madeira, sem metais.
Assim em contato com a terra, que enfim há de me comer.
Não comer"eu".
Comer o corpo carcaça que no fiz jaz sem vida, sem quase nada (tirante os quilos de água, o punhado de cinzas é a parte que te coube nesse latifúndio).
"Não quero choro nem vela nem fita marela". "Nem na Lapinha, nem calça culote, paletó e almofadinha".
Quanto aos excessos, releve. Se não são o melhor, são o mais autêntico em mim.