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quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Minha cela

Vou em pensamento até a cadeia da Polícia Federal de Curitiba.
Tive já vontade de ir até lá algumas vezes.
Dar um bom dia ou um boa noite ao nosso ex-presidente, nosso ex-candidato na eleição que acabou recentemente e mal.
Mas como muitos outros desejos da minha vida, esse foi mais um que ficou sem se realizar.
Já adianto que sou incompleto, podemos dizer um fracasso.
Um fracassado como Lula, como Haddad, como Dilma, como Lindberg, como Requião, como Genoíno. Como Zé Dirceu.
No sentido de suas derrotas, não na grandeza que eles sabem tirar delas. Eu sou um ser minúsculo.
Felizmente não vou me regozijar com Jair, com Marcos, com Paulo, com Sérgio, com Onix, com Romeu, com Carlos.
Sou do time dos derrotados.
Penso em Walter Benjamin chegando na fronteira.
Mas não vou me matar com uma overdose.
Não vou dar tiro no côco.
Não vou pular desse 5o andar, nem na frente de um trem ou ônibus.
A indesejada que me leve, talvez no ocaso dos dias, talvez de susto, de bala ou dos vícios.
Talvez eu até vá tomar banhos de mar, fazer os exames de rotina e cuidar do que me aflige.
Tentar arrumar uma namorada.
Trabalhar duramente.
Fazer comida.
Cuidar das roupas e da casa.
Viver uma vida normal no meio dos coxinhas que viraram bolsominions.
Talvez eu deveria dizer bolsonaristas, chamar o mito deles de Vossa Excelência.
Mas confesso que não nem tanto ao céu nem tanto à terra.
Chega de chamar o Presidente eleito de Bozo ou Coiso.
Nunca usei os Salnorrabo e outras formas. São escolhas pessoais.
Então aqui agora ele será só Bolsonaro, já que Jair é íntimo e próximo e Messias é quase uma piada de mau gosto.
E o que esse texto vem acrescentar?
Para os leitores parcos, talvez nada. Uma distração ou passatempo? Há coisas melhores e mais urgentes.
Para mim, depois de ter batido no fundo do poço, ter aberto lá no fundo o alçapão e ter descido mais...espero que seja aqui um caminho de volta dessa longa depressão.
Não cabe aqui repetir histórias, buscar causas, contar como passei essses tempos. Nem eu me interesso e, se os detalhes tivessem um valor terapêutico, bem, mas já gastei tempo e paciência com um terapeuta que me irritou tempos atrás. Deixemos o passado no passado.
Também espero ao menos manter a compostura que não tive quando falei de um tio. Pelo menos prometo não falar de outrem.
Coisas que acontecem, das quais nos arrependemos amargamente e ainda assim, limpando uma cagada aqui e outra ali, temos que acordar, olhar o espelho que sempre nos rodeia e seguir em frente.
Será aqui de novo meu monólogo.
Minha tessitura de Penélope.
Meu refúgio.
Sentei aqui, levantando do sofá onde chafurdo longamente.
Veja bem: já tentei poesias, ensaios, me sustentei e a uma família até que longa e dignamente com engenharia química e gestão de negócios químicos. Mas deu.
Agora quero só esse "sofá".
Sem mais vídeos de you tube, sem mais time lines de facebook, sem mais música, cinema, sem mais outras vidas que me chegam pela tela da tevê.
Só o post "infindo".
Entenda também, se você já veio até aqui, que isso foi e continuará sendo feito sem projeto.
Praticamente não terá revisão (além de uma ou outra correção ortográfica e gramatical).
E o "projeto" é sobrevivência.
A distopia me colheu.
O sonho de um Brasil importante, o sonho de uma indústria pujante (onde militei humilde e com algum recurso intelectual e muito boa vontade), de uma agricultura sustentável, de uma floresta viva com povos diversos e respeitados, mesmo a esperança de algum grau de felicidade, tudo isso, isso que chamamos de alegrias, ficaram para trás. Cheguei no portal do Inferno de Dante.
Agora é coser de dia pra descoser à noite ou vice versa.
Trocar figurinhas.
Temo pela minha integridade física e psíquica, mesmo sabendo que sou um alvo não prioritário.
O fato mesmo de vir aqui nesse confessionário, expor um diário que já cheguei bisonhamente a apagar, para me proteger de olhares curiosos de potenciais empregadores e quetais, todas essas esperanças sociais de conforto e segurança foram baldadas.
Agora é encher a página, dar um "publicar", começar um outro post. Será assim. Tem que ser assim. Um homem sem algum tipo de compulsão não é mais nada. Vá na Bienal, veja vídeos motivacionais, toque sua carreira, cultive amigos, case e crie filhos. Tudo é uma compulsão que nos enche de vida.
Então aí estou.
A data vai escrita por aí. O dia da semana é quinta, isso é a véspera do dia dos mortos, creio eu. Não bebo e não fumo, mas mesmo assim é como se estivesse meio fora de mim, não é um grau de lucidez que me agrade, mas não tenho outro.
As táticas de comunicação nos roubaram a verdade.
A verdade agora é uma falsidade.
Estamos num tipo de distopia midiática.
Eu seria um comunista corrupto nessa situação.
Ainda não me torturaram e mesmo assim, estou quase admitindo (nada mais falso, me considero bastante honesto em questões de dinheiro, bens e emoções, até um social democrata em economia política, seja lá o que isso seja, um democrata e anti estatista no geral, salvo no caso de alguns setores que julgo serem importantes de ficarem sob domínio do estado ainda que parcialmente (saúde, educação, ciência, petróleo, energia e justiça, para não alongar a lista e não pensar demais).
Mas isso não virá ao caso.
Caso a situação evolua mal, dentro do que podemos imaginar de perseguições que inferimos das falas do Bolsonaro em seus "melhores" e mais sinceros momentos. Não vou repetir suas falas. Cansei. Elas também não caem bem em minha boca.
Mas tudo que não quero mais é a segurança de ficar calado.
Como não tenho com quem falar, "falo" no meu blog.
Algumas linhas. Tudo que peço por hoje. Espero que amanhã também ainda me interesse escrever.
Não vai ter assunto.
Será apenas um murmúrio de um cego louco abandonado. Um senil demente. Um decrépito.
Um sem eira nem beira.
Um que não se importa de mostrar suas entranhas sujas, suas auto comiserações, seu mimimi.
Não sou nem quero ser forte, produtivo.
Não.
Quero viver ainda um pouco.
Aqui então isso se traduz em ir até o fim da linha, dar uma vírgula ou um ponto que seja final mas não "o" final, começar de novo, recomeçar.
Como o menino estudante de 20 lá em Campinas.
Como o jovem profissional de 30 lá em Cajati.
Como o cara de meia idade no Marrocos.
Como esse senhor de 54 agora aqui nessa rua que leva o nome de uma coisa que está tão longe e em vias de extinção: Mata.
Volto à cela de Curitiba.
Lula lá espezinhado por bolsonaristas.
Lula lá sem cachaça, sem companhia, sem internet.
Lula sem mim, eu sem Lula.
Ele parece que se dedica à ginástica.
Eu estou bem sedentário. Pouco caminho, hoje ainda não saí do apartamento. Preso, como Lula.
Imagino que um processo fantasioso (algum imposto olvidado? essa solidariedade de comunistas bolivarianos que querem sequestrar o país para a Internacional Socialista? alguma denúncia de um desafeto? ou uma "denúncia vazia"? ou a falta completa de denúnica como num proceso kafkiano?) poderão em breve me levar a uma cela.
Não, não estou delirando.
Não, nada disso é real.
Nem sou gay, nem sou preto, sem sou mulher, só um pouco molóide, meio louco, meio miolo mole, simpatizante de causas, pseudo ativista, petista de coração há quase quatro décadas (tenho orgulho de só ter votado quase exclusivamente no PT desde 1982, salvo segundo turnos onde não me abstive contra Maluf e num primeiro turno de 2006 quando o "Mensalão" era recente e tive uma trip moralista e votei em Heloísa Helena e provavelemnte Ivan Valente e Carlos Gianazzi).
No mais tenho memórias variadas de votar em Zé Dirceu, Suplicy, Genoíno, Florestan, defensores de gays e lésbicas, descriminalizadores da maconha, deputados pró aborto, nomes que vão me fugindo, Clara Ant? Clara Charf? temos que essas nem se candidatara...Éder Sader...Greenhalg?   
Não importa. O futuro será de esquecimento e silêncio mineral.
Preciso desprendimento.
Sei que sinto que lutei um bom combate, ainda preciso resistir e uma solidariedade à raça humana ainda existe dentro de mim. Não só à esquerda. Aos iludidos da direita, aos inocentes úteis. Mas que não atinja os mal intencionados, os fascistóides! A esse só posso cuspir a saliva do desprezo!
Essa solidariedade humana e vivente, geológica é tal que me leva ao ponto de eu ainda tentar viver nesse tempo e lugar.
A ponto de eu dar desconto a tudo que está sendo feito em nome de sei lá que tipo de projeto entreguista da pátria, de empobrecimento das massas, de devastação, etc (tudo com outros nomes e distorções de intenções: faz parte das cortinas de fumaça atuais e da guerra híbrida midiática. Orwell e Huxley!).
"A maior quadrilha de todos os tempos do mundo", "o chefe dela preso", "o exílio ou a cadeia"..."o que importa é acabar com o PT"...pronto, falei, repeti o que esperam de mim...essa noite passou mal, esse texto não explica nem se finda, a confusão nem aumenta nem diminui. Será assim doravante. Até o fim...

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