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segunda-feira, 21 de maio de 2018

Kaapora

Lembro da Flávia na casa do Guto. Já faz tempo. Não sei se era a gravidez da Lara ou do Davi.
Do Beto é até mais fácil lembrar, chará.
Os anos voam.
Ano passado vi o post dela dos seus quarenta anos, um voraz releitura desse tempo todo.
Eu já com 54.
Aí vi o negócio dela ter querido ser escritora a vida inteira e estar trilhando esse caminho.
Tudo tão mais estruturado que meu sonho, que não sai dessa verborragia que quase nunca reviso.
Meus textos são assim, sujos.
Desde que comecei com 19 ou vinte.
Pegava papel de formulários contínuos, nem um caderno eu não podia, ou não queria, comprar, não precisava. O importante era uma folha em branco e uma caneta bic (se bem que teve umas parker 51 do velho Xandico, viajei no design retrô e na escrita mais grossa ou mais fina, mais sempre mais sanguínea. E dá lhe sujar a mão na hora de encher com o êmbolo de borracha).
Em Marília usei máquinas de escrever de novo do velho. Teria sido sua maior herança?
Depois vieram muitas cadernos de capa dura, pretos, livros de ata.
E depois, dez anos atrás, comecei esse blog. Fui repreendido pela companheira.
Ela pouco entendia de sonhos. Ou talvez, melhor, entendia dos dela e não gostava muito dos meus. Passou.
Nunca parei, nunca botei mais quente. Serve como página em branco e simula a escrita manual, tão agradável, mas que também perdi, como a maioria dos humanos atuais.
Aqui é uma fervura branda.
Quantas besteiras fiz e faço aqui. Me permito. Se somos só quase sublimação, aqui sou um pouco mais verdadeiro, sem filtro, bom e mau, real.
Quantos poucos acertos que me serviram de terapia gratuita, auto expositiva e auto comiserante, sei lá, erros de um português ruim, a cabeça um pouco pilha fraca.
Mas nesse momento de mudança, entre um sabático e uma nova aventura profissional pelo interior do Brasil, tantas ganas me deu de esscrever, compartilhar esse sonho dela.
Bem, hoje é uma segunda chuvosa na Flórida, vendi o beetle no sábado e vim a pé de guarda chuva, molhando a calça para baixo do joelho, quase encharco o tornozelo e o sapato (no caso um tênis, sabia que couro não era adequado para essa estação nesse lugar). Chegar foi relativamente fácil.
Sair é mais complicado. Parece uma metáfora da vida.
Praticamente já não trabalho mais na KEMWorks. Amanhã começa a planta piloto para os australianos e depois fim. Quinta feira que vem embarco de volta para o meu Brasil.
Ou podemos chamar de minha Venezuela, minha Terra em Transe, sei lá, aquilo tá confuso prá caramba. Petista sofre. Mas como deixar de sê-lo? Já é uma segunda natureza.
Sei que me deu uma vontade de ir bater um papo, trocar uma ideia, falar com essa desconhecida que vi crescer assim de longe, mesmo que estejamos até perto.
Algo em comum. A mesma vontade. Torcendo por ela. Torcendo por mim.


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