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sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Carne da minha perna

Um pai não nasce pai.
O Filho é o parteiro do Pai.
O pai nasce um pouco antes do filho?
Não!
Aquilo de querer ser pai, de se preparar para, ainda não é ser pai.
Um pai nasce quando vê a cara do filho.
Quando descobre que um filho no começo não sabe que tem pai.
Bem no comecinho nem mãe ele sabe que tem.
Aí ele descobre o peito, o leite, abre os olhinhos de cachoro recém nascido e descobre o mamilo, o bico do peito, um, dois. E um dia, antes e finalmente, o bebê sabe que há uma mãe.
Ainda vai uns dias, semanas? Meses?...até que no meu caso, o menino, saiba que tem lá um homem.
Que esse estranho homem é seu estranho pai.
E o estranhamento só aumenta, no meu caso de novo.
Extranha, exterioriza a entranha.
Por que eu sou exquisito (em espanhol) e extranho.
Eu ajo esquisito. E estranho.
Eu sou esquisitão, pode se dizer.
Só vir aqui e ficar batucando ao ritmo de uma suposta fala, de um canto, desse canto que grita, que é mavioso, que vai para lá e prá ao sabor de um vento de paraísos e musas e sons e ações como de cinema, ações que sempre valem, mesmo que ninguém as veja.
Um filme não rodado.
Nem roteirizado.
Mal dirigido, só ver o número de mortos nas estradas, de vidas derrapadas, de casamentos trombrados, de famílias com cortes, cicatrizes de vidros, de ferros, de fios, de fogo, de combustível queimado e latões de lixos enormes que nunca são retirados antes da putrefação e do cheiro ruim, do ranço, da mágoa, da má água do piriri azedo do Guandu do Crivella, da mágoa da mãe que prefere o silêncio inativo à comunicação aberta tão necessária para o apoio ao filho, esse mesmo que abriu o olho e não gostou do que viu em certas cenas e tem uma tendência e se fixar em detalhes da cena e às vezes perde o foco na cenna maior, a vida dele que chega esse ano no terrível 27, o 27 que assustou todos eles, que assutou a mim enquanto eu me perguntava se ia sair da barriga da mãe um monstrinho, ou um monstrão, anencefálico ou com duas cabeças? três pernas, quatro olhos, mil bocas e pele de lagarto com unhas de Zé do Caixão, enroladas, cornos em pontos aleatórios, pés revirados em curupírica revolução, com encostos maléficos a serem exorcizados, com idéias fixas de satanismo a serem libertas, com Mansosns e Ozzis infernais a infernizar lhe o sono do homem que carrega a criança frágil e dócil e doce e franciscana que afinal só queria (o homem jovem e a sua criança) que ninguém fodesse.
Que ninguém fodesse o paraíso que sonhamos e que não vamos nunca encontrar.
Nunca.
Nunca mais?
Nunca, nunca houve?
Nunquinhas de pitibiribas.
Não. Era só o moleque.

O moleque e seu pai velho.

Seu pai velho que já tinha tirado décadas a remoer moinhos de conhecimento, servidão, até crenças em dias melhores em foices martelos libertadores mais que escravizadores, de luta antifa, de passeatas de bandeira vermelha em punho. de distribuição de panfletos, de colar cartaz e pintar em postes e muros e sarjetas e ruas em cidades próximas e remotas como Marília, Sampa, Cajati, Campinas, Porto Seguro.
Mas veio Collor.
FH.
Até elegermos Lula que elegeu Dilma que elegeu o Vampiro Temeroso.
Que nos deu Bozo.
Farinhas do mesmo Bolton.
E eu aqui esperando o filho que não vem!

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