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sexta-feira, 23 de março de 2012

Chico Anysio morreu

Chico Anísio, que chegou nos anos 80 a ser uma espécie de braço direito de Roberto Marinho, apesar de ter um talento artístico enorme, não deixa saudade no humor que perpetrou.
Gerações como a minha acostumaram-se ao riso fácil das caricaturas que fazia dos mais fracos reproduzindo depois essa modalidade de humor nas escolas e ambientes de trabalho, de modo a perpetuar a discriminação que pesava sobre os que se encontravam em oposição ao ideário de normalidade da classe média.
Acomodou-se ao regime militar e a ele serviu comandando sessões apelativas de riso que desviavam a atenção dos rumores sobre as atrocidades cometidas pelo regime militar, que seus patrões diariamente ocultavam.
Contribuiu para que se criasse em torno do último ditador do ciclo de governantes da ditadura militar, João Figueiredo, uma aura de simpatia e tolerância por meio de um quadro em que mantinha conversas intimistas com o governante.
Afeiçoado aos poderosos, ainda depois da ditadura Anísio chegou ao cúmulo de dar sustentação ao confisco da poupança praticado pelos sócios de seus patrões, os Collor de Mello, vindo até a casar-se com a Zélia Cardoso de Mello, ministra da economia de então.
Com a troca de guarda para a nova geração dos Marinho, Chico Anísio nunca se recuperou da dispensa de seus serviços pela Rede Globo depois que a emissora – para a qual contribui com o grande faturamento de seus programas – decidiu renovar sua imagem nos anos de 1990 apelando a uma nova abordagem de humor, representada por grupos humorísticos egressos do teatro e do "humor universitário".
Antes que iniciasse a lenta agonia em direção ao destino igualitário da morte, a Globo cedeu à mágoa do humorista e deu-lhe a chance de um breve retorno à cena representando a idosa que ligava para o ditador Figueiredo. Só que nesse ato de despedida, quem estava do outro lado da linha era a mulher Dilma, a quem o preconceito do humorista jamais perdoaria por ser uma mulher na presidência da República.
Um troco que, por felicidade, a vida dá aos homens sem caráter antes que caiam no esquecimento.
fonte: http://brasilquevai.blogspot.com.br

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