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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Ode às máquinas de escrever

Agora jazem velhas, em ferros velhos, antiquários, ou guardadas em velhos armários. Acredito que no "interior", por exemplo em Registro, subsistam lojas antigas, afinal há formulários impraticáveis de outra forma...
Eu mesmo tenho ainda uma pequenina, aposentada, daquelas que a tampa de plástico forma uma caixinha até sutil. Já foram novas, saindo de caixas, embaladas em plásticos ou, antes, em panos. Filho de advogado, fui herdeiro de uma Olivetti Lettera parruda, sobre mesinha de rodas, e de uma alemã "moderna", porte médio, design mais quadrado e limpo, esmaltada em branco...
Foram rainhas de escritórios enormes, alguns com dezenas delas, seus barulhos às vezes nervosos, outras quase musicais, clicks e tecs e tacs e blins.
Duas folhas de papel no mínimo, se você quizesse preservar o cilindro de borracha, fazê-lo durar frente à árdua tarefa de receber incontáveis golpes dos tipos das letras, bracinhos precisos, descançando alinhadinhos em arco sobre o amortecedor de couro do apoio de metal... E um carbono entre elas, ou mais de um, se se quizesse cópias, num mundo pré copiadoras, pré xerox, onde os cartórios faziam cópias em folhas de "gelatinas" para os Livros de Assento de Escrituras, por exmplo!
E nas manutenções, fitas desbotadas, cansadas das marteladas, dedos sujos, pretos ou vermelho e pretos, muito antes das elétricas IBM, cujas fitas eram plásticas e não sujavam os dedos e "automaticamente" cobriam nossos inevitáveis erros...
E a "escola de Datilografia"? Eu fui com o Luiz Xavier na da Nove com a São Luiz, mais de trinta máquinas, no mínimo seis por cinco, era um "diploma" que a mim não fez tanta falta (com onze anos me faltou concentração e abandonei o curso), mas certamente mudou para melhor a vida de muita moça e moço pobre, que ia virar secretária, assistente administrativa, redatora...
Consegui terminar meu curso, aos treze, na companhia da minha irmã juíza, na muito mais moderna escola de datilografia do Senac, na Nelson Spielman, onde tínhamos um grosso manual a seguir. Começava no asdfg, qwert, poiuy, ~çlkjh, esse último não era assim, mas o "carro" ia aos tranquinhos, tlec, tlec, até o fim da linha, trim, empurrá-lo no fim da linha com a enorme alavanca de alumínio, trocar de linha, TAB, para o parágrafo, páginas inteiras...até chegar aos 130, 150 e os incríveis 200 toques por minuto, sem erros! Uso os cinco dedos de cada mão até hoje!
Viva, em outras dimensões, as Remingtons, aposentadas, findas as velhas oficinas de consertos, os profissionais doutores do ramo, viva o teclado de computador que os jovens não sei como se viram, sem curso, "catando milho", bem certo que vão usar essa "língua" taquigráfica da internet, visto que nunca puseram os olhos no manual do Senac, cartas comerciais, Prezado Senhor Sicrano, Atenciosamente, Mui Cordialmente, assinatura e, no caso da(o) datilógrafa(o) as iniciais em minúsculas embaixo no cantinho direito, fazer no capricho, levar para o chefe rever e, se correto, assinar. Carta bonita, zero erros! Quantas(os) voltavam possesas(os) ou chorando para a "máquina", refazer anotações marcadas com bic vermelhas para terminar de inutilizar o trabalho, uma ou mais folhas por uma letrinha errada, inadmissível!
No fim da vida delas surgiram as IBM, as Olivetti elétricas, arredondadas, já sem o arco dos tipos, mas com uma esfera intercambiável para signos e diferentes fontes, fazia movimentos quase inacreditáveis para acessar as últimas letras, mas trazia embutida uma fita corretora, fazíamos a esfera retroceder e aplicávamos a tecla de correção, lá ia o tipo certo, com a fita "branca", quase mesmo fazendo sumir a besteira, já tinha memória!
Vieram então os computadores com monitor de fósforo verde, o processador de texto, as primeiras versões pobrezinhas, depois a escalada sempre vertiginosa do fim do século vinte e começo do 21, LCD's, o Word 2007, e os lap tops de 300 gramas! Tenho mesmo um tecladinho de 1 x 2 polegadas, teclinhas de 3 x 2 milímetros no meu "telefone com emails".
Quase impraticável no começo, para essa pata de urso, dedos grossos que tenho; agora já uso até acentos e cedilhas no "track ball" do Blackberry...

3 comentários:

ludenmerlin disse...

Que maravilha de post beto, uma poesia, rendeu-me lembranças bacanas, até sinti o cheiro da tinta da fita, o limpa tipos e os grandes escritórios de repartições públicas com muitas numa sinfonia grandiosa de tecs, tics e blinks.
Parabéns.

Roberto Cerqueira disse...

Sérgio,
Obrigado pelo elogio!
Estamos nessa de "Em busca do tempo perddido", olhando o futuro nesse presente, mas o tal passado muitas vezes é "real" e nos remete ao que fomos e somos.
Prazer partilhar memórias contigo!
Abraços distantes e saudosos!
Beto

Roberto Cerqueira disse...

Sérgio,
Obrigado pelo elogio!
Estamos nessa de "Em busca do tempo perddido", olhando o futuro nesse presente, mas o tal passado muitas vezes é "real" e nos remete ao que fomos e somos.
Prazer partilhar memórias contigo!
Abraços distantes e saudosos!
Beto