“Brasileiro tem memória curta” é mais uma daquelas afirmações para desqualificar o cidadão brasileiro criadas pela classe dominante econômica e os “formadores de opinião” e difundidas nos mais diversos meios de comunicação.
Então, para ajudar a “refrescar” a memória de todos, não custa lembrar alguns fatos da política externa brasileira em relação aos vizinhos latino-americanos nos anos recentes, o que se falou deles e o resultado das políticas adotadas no governo Lula.
Você lembra quando o então recém-empossado presidente da Bolívia, Evo Morales, se empenhou num processo de renegociação do preço do gás exportado para o Brasil? Os grandes jornais brasileiros e muitos de seus colunistas ridicularizavam o governo Lula dizendo que o país estava ficando de “joelho” face à pequena Bolívia e pediam providências dignas de “grandes” potências, sugerindo inclusive respostas militares. Afirmavam que a posição subalterna do governo brasileiro frente à Bolívia traria um “gigantesco” prejuízo para a PETROBRAS, que a elevação do custo do gás teria importantes efeitos negativos sobre a indústria brasileira e contribuiriam inclusive para um aumento da inflação.
Pois bem, vale lembrar a resposta serena do presidente Lula e a sua fé que negociações bilaterais com o “companheiro Evo” resolveriam a questão de forma justa para ambos os lados. Nenhuma das previsões se concretizou e, de lá para cá, o Brasil cresceu muito mais e com inflação sobre controle. No fundo, o que a grande imprensa pedia era que o Brasil agisse com seus vizinhos da mesma maneira que muitos países agem com seus parceiros menores, explorando os mais fracos em termos econômicos e políticos.
Em um passado mais recente (abril de 2010), já em campanha eleitoral e como já tinha feito em 2002 quando perdeu a eleição para Lula, o candidato tucano afirmou que “ficar carregando esse Mercosul não faz sentido" para o Brasil e que "a união aduaneira é uma farsa, exceto quando serve para atrapalhar". Essa posição também é imperialista no sentido de querer extrair dos vizinhos menores o que pode sem dar nada em troca.
Essa posição não leva em conta o fato que hoje grande parte da indústria brasileira se beneficia dos acordos e da aproximação com os vizinhos latino-americanos. Quase metade das exportações brasileiras de produtos manufaturados (que são aqueles que geram mais emprego nas cidades e que tem maior valor agregado) vai para os vizinhos latino-americanos, sendo a Argentina nosso principal mercado. Diversos setores como o de produtor de automóveis, equipamentos eletrônicos e medicamentos destina mais de 2/3 de suas vendas para os países latino-americanos. Enfim, no governo Lula, as exportações brasileiras de produtos manufaturados para esses países cresceram mais do que as exportações totais brasileiras, que já tinham, elas, aumentado bastante (mais do que dobraram nesse período).
Os benefícios econômicos decorrentes de uma aproximação com os vizinhos vão além do comércio exterior e hoje as empresas brasileiras estão presentes nos países vizinhos como Argentina, Chile, México, entre outros.
Ou seja, a aproximação com os países vizinhos da América do Sul é uma questão de resgate de uma dívida secular com os nossos vizinhos de continente mas também traz benefícios para os cidadãos brasileiros. O que está em jogo é não só o futuro do nosso país, mas como também o desenvolvimento do continente sul-americano.
Autores: Marta Castilho e Carlos Pinkusfeld (UFF)
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