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"Concreto"

Pedra, barro, massa     Mão, calo, amassa! Levanta parede  No ar  D a hora Que se levante! Mora dentro     F ora   Vi...

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Mercado e democracia

O governo do povo, pelo povo e para o povo, se e quando e onde existiu, existe e existirá, visando a felicidade do povo (= a maioria da população) só vingará caso supere em poder o reino do "deus mercado" (= uma minoria muito rica que detém as maiores empresas) que os liberalismos (nome capcioso!) sempre defenderam...
Vejam os EUA: um governo de poucos, que "defendeu" os estados unidenses "contra" o resto do mundo e proveu "crédito fácil" para uma população que falsamente não empobrecia enquanto seu país, capitaneado pela banca, "vendia" títulos da dívida imobiliária (e outras) do próprio povo... Irresponsabilidade tem seu preço!
A indústria manufatureira e agricultura deles há muito vão de mal a pior...vejam os déficits comerciais astronômicos, apesar dos subsídios e barreiras protecionistas! Agora vão jogar 700 bilhões de doletas para estancar a hemorragia aparente da banca! Haja PROER, mas há putrefações escondidas, internas, que falta sanear! E o pior é que se deixá-los quebrar, talvez seja ainda pior...pelo menos por uma boa década!
Mas voltando à democracia: ela precisa dar oxigênio para, mas estar acima das empresas! Parece simples, mas é um desafio enorme, não só no Brasil, mas a nível planetário. Vamos lá: é uma construção cidadã, internacional!

domingo, 28 de setembro de 2008

Polícias marroquinas

Pelo menos três: Gendarmerie Royale, Sureté Nationale e Sureté Provinciale...
Nenhuma é honesta e, os locais dizem, que a "jdid" (de El Jadida) é a mais corrupta delas.
O resultado é que vivem me parando para tentar tomar 400 dirhams (~100 reais) "no papel" ou "um café" (no Brasil seria uma cerveja), 50 ou 100 dirhams, "sem papel".
Paguei muitas multas, sempre no oficial (nunca corrompi um policial!) para surpresa dos malas que ficam dizendo: "Mas é muito caro"! enquanto esperam que você ofereça o "por fora"...
O melhor é ir falando logo inglês. Eu falo francês e mesmo algumas palavras em árabe, pior para mim...
Minha tática tem sido: "chorar".
"Sou brasileiro, (Kaká, Ronaldinho, para os mais velhos um Roberto Carlos), residente, não posso arcar com esses custos... tudo tão caro e salário, ó! (polegar e indicador que se aproximam...).
Geralmente eles me mandam embora, dizem que não foi nada grave (e nunca foi mesmo!)...

sábado, 27 de setembro de 2008

Auto Epitáfio Condescendente

Fulano de Tal, prócer da nossa sociedade!
Casado com Dona Sicrana de Qual, uma mulheraça!
Seus filhos Fulaninho e Sicraninho: bonitos, saudáveis e inteligentes!
Esportista correto, ótimo aluno e profissional exemplar.
Escreveu vários livros de sucesso e plantou muitíssimas árvores.
Ótimo cidadão, corretíssimo e deixará saudades eternas!
Será pranteado longamente por parentes e amigos inconsoláveis!
Aqui jaz santamente, com muito orgulho para nossa comunidade, a qual se enobreceu com suas grandes obras!
Do pó veio e a ele retornará.
Que sua alma receba o descanço dos justos!
Resquiecat in pace!
Amém!

Auto Epitáfio Rancoroso

Fulano de Tal: um Zé Ninguém!
Casado com Sicrana de Qual, outra!
Pai de Fulaninho e Sicraninho: nadas!
Não foi bom no esporte, nem na escola, não se dedicou à política e muito menos ao trabalho!
Não escreveu livros nem plantou árvores!
Morreu há pouco, corpo ainda quente.
Esse presunto sórdido vai esfriar e endurecer sem deixar nenhuma saudade!
A carne pútrida federá até virar pó inútil.
Os ossos que sobrarem de nada valerão!
Um bosta completo. Uma merda humana!
"Resquiecat in Pace" o cacete!
Que sua alma sofra como um cão!

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Ode às máquinas de escrever

Agora jazem velhas, em ferros velhos, antiquários, ou guardadas em velhos armários. Acredito que no "interior", por exemplo em Registro, subsistam lojas antigas, afinal há formulários impraticáveis de outra forma...
Eu mesmo tenho ainda uma pequenina, aposentada, daquelas que a tampa de plástico forma uma caixinha até sutil. Já foram novas, saindo de caixas, embaladas em plásticos ou, antes, em panos. Filho de advogado, fui herdeiro de uma Olivetti Lettera parruda, sobre mesinha de rodas, e de uma alemã "moderna", porte médio, design mais quadrado e limpo, esmaltada em branco...
Foram rainhas de escritórios enormes, alguns com dezenas delas, seus barulhos às vezes nervosos, outras quase musicais, clicks e tecs e tacs e blins.
Duas folhas de papel no mínimo, se você quizesse preservar o cilindro de borracha, fazê-lo durar frente à árdua tarefa de receber incontáveis golpes dos tipos das letras, bracinhos precisos, descançando alinhadinhos em arco sobre o amortecedor de couro do apoio de metal... E um carbono entre elas, ou mais de um, se se quizesse cópias, num mundo pré copiadoras, pré xerox, onde os cartórios faziam cópias em folhas de "gelatinas" para os Livros de Assento de Escrituras, por exmplo!
E nas manutenções, fitas desbotadas, cansadas das marteladas, dedos sujos, pretos ou vermelho e pretos, muito antes das elétricas IBM, cujas fitas eram plásticas e não sujavam os dedos e "automaticamente" cobriam nossos inevitáveis erros...
E a "escola de Datilografia"? Eu fui com o Luiz Xavier na da Nove com a São Luiz, mais de trinta máquinas, no mínimo seis por cinco, era um "diploma" que a mim não fez tanta falta (com onze anos me faltou concentração e abandonei o curso), mas certamente mudou para melhor a vida de muita moça e moço pobre, que ia virar secretária, assistente administrativa, redatora...
Consegui terminar meu curso, aos treze, na companhia da minha irmã juíza, na muito mais moderna escola de datilografia do Senac, na Nelson Spielman, onde tínhamos um grosso manual a seguir. Começava no asdfg, qwert, poiuy, ~çlkjh, esse último não era assim, mas o "carro" ia aos tranquinhos, tlec, tlec, até o fim da linha, trim, empurrá-lo no fim da linha com a enorme alavanca de alumínio, trocar de linha, TAB, para o parágrafo, páginas inteiras...até chegar aos 130, 150 e os incríveis 200 toques por minuto, sem erros! Uso os cinco dedos de cada mão até hoje!
Viva, em outras dimensões, as Remingtons, aposentadas, findas as velhas oficinas de consertos, os profissionais doutores do ramo, viva o teclado de computador que os jovens não sei como se viram, sem curso, "catando milho", bem certo que vão usar essa "língua" taquigráfica da internet, visto que nunca puseram os olhos no manual do Senac, cartas comerciais, Prezado Senhor Sicrano, Atenciosamente, Mui Cordialmente, assinatura e, no caso da(o) datilógrafa(o) as iniciais em minúsculas embaixo no cantinho direito, fazer no capricho, levar para o chefe rever e, se correto, assinar. Carta bonita, zero erros! Quantas(os) voltavam possesas(os) ou chorando para a "máquina", refazer anotações marcadas com bic vermelhas para terminar de inutilizar o trabalho, uma ou mais folhas por uma letrinha errada, inadmissível!
No fim da vida delas surgiram as IBM, as Olivetti elétricas, arredondadas, já sem o arco dos tipos, mas com uma esfera intercambiável para signos e diferentes fontes, fazia movimentos quase inacreditáveis para acessar as últimas letras, mas trazia embutida uma fita corretora, fazíamos a esfera retroceder e aplicávamos a tecla de correção, lá ia o tipo certo, com a fita "branca", quase mesmo fazendo sumir a besteira, já tinha memória!
Vieram então os computadores com monitor de fósforo verde, o processador de texto, as primeiras versões pobrezinhas, depois a escalada sempre vertiginosa do fim do século vinte e começo do 21, LCD's, o Word 2007, e os lap tops de 300 gramas! Tenho mesmo um tecladinho de 1 x 2 polegadas, teclinhas de 3 x 2 milímetros no meu "telefone com emails".
Quase impraticável no começo, para essa pata de urso, dedos grossos que tenho; agora já uso até acentos e cedilhas no "track ball" do Blackberry...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Invencionices

Calmotivado
Solitudo
Tédiormal
Tranqüagitado
Nadudo
Furibondoso
Contraforme
Insanotisfeito
Desfatigado
Aperfolgado
Intervertido
Repetinventado
Fericurado
Apósantes
Extrocalado

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Historieta familiar III

Nome de anjo de segunda classe da primeira hierarquia, que também quer dizer menino gracioso. Caipira de Porto Feliz. Estudou Odontologia em Itapetininga, no tempo a primeira escola superior do interior de São Paulo, ou quase.
Organizava teatro, saraus de poesia, mostras de arte. Um agitador cultural.
Foi dividir consultório na Capital com um obscuro médico, Dr. Ademar de Barros, que virou político, o "Rouba mas Faz".
Na Revolução Constitucionalista, frente de batalha no Vale do Paraíba, com o "Teatro do Soldado", nosso Garcia Lorca! Dali a pendurar o diploma de dentista foi um passo. Foi ser radialista em Santos. Conheceu uma professorinha.
Casou, teve filhos e os altos e baixos da vida artística o levaram a pedir um cargo para o Ademar, mas sempre se manteve correto e obviamente rompeu com o "padrinho", que, depois, passando em frente à sua repartição na Coletoria de Santos, disse aos compinchas da sua laia: "Ali trabalha um homem honesto".
Não teve casa própria, não teve carro. Mas teve carne, peixe e vegetais frescos sempre sobre a mesa. E queijo reino, azeite "bom" e outras coisas boas que se achavam na "cidade". Pode descançar em paz no travesseiro a cabeça branca.
E na, sua velhice, eu tive o melhor vô do mundo!

Séculos

"Muitas coisas podem não ocorrer.
Esta acontecerá".
Philip Larkin, sobre a morte

"Agora e para sempre
Pelos séculos dos séculos, Amém"
Queria a vida assim eterna
E sei que a minha não terá mais 5 décadas
Pela frente...
Talvez cinco meses, talvez cinco dias;
Cinco minutos??
Mesmo vestido com as roupas e armas de Jorge
Minha inimiga, a dita cuja de quem fujo,
Ronda e me encontrará!
Me atará, me atingirá e me transpassará.
Encontrará a casa arrumada e vazias as esperanças?
E meus pensamentos, se esvairão?

Verses françaises

Je voudrais parler
Mais je ne parle pas
Parce que je...
"Je ne suis d'ici
Je ne ai d'amour"
Je suis de Marília
Je suis de São Paulo!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Outono Primaveril

Outono no Marrocos, Primavera no Brasil.
A temperatura do vento hoje dizia: "vou derrubar as folhas!".
Mas não sei quais árvores são decíduas aqui...tanto que a botânica me falta, pois gostaria de saber o nome de mil árvores, "árveres, arves, que somos nozes"...
Aqui chamam de araucária um pinheiro besta, "dez vezes pior" que nosso símbolo do Paraná e enfeite de Campos do Jordão!
Me revolta, mas quem sou eu para me revoltar, ainda mais por uma coisa besta dessa, sô!
Mas tenho vontade de fazer pôsteres de auracárias e colar em cima dos lugares que chamam Araucária (há cafés, "snacks", que são as lanchonetes daqui, farmácias e outros comércios), para eles saberem do que se trata, acabar com esse e outros equívocos daqui (por exemplo eles ficarem trinta dias jejuando do nascer ao por do sol, para sentir como os pobres, os que não tem comida, se sentem. Mas depois eles são incapazes de dar um sorriso para a maioria dos serviçais, quase como os indianos e suas abomináveis castas!).

Historieta familiar II

Fazia de um tudo pelos filhos, pelo marido.
Como a maioria das mães, rasgaria o peito, a la pelicana, para os filhos nutrir.
Temia: Deus sobre todas as coisas, mas a língua da vizinha, os afogamentos, quedas e atropelamentos, principalmente de bebês.
Teme o câncer, do qual já venceu o de colo de útero.
Teme o infarto, e por isso cortou carne vermelha e queijo amarelo da dieta.
Teme a demência. Tomava gingko biloba... fazia palavras cruzadas...
Temia pela vida dos netos e por isso, numa febre braba de um, fez promessa e a cumpriu por anos, de não beber álcool.
Relaxou recentemente: meia taça de vinho, uma bicada numa cerveja e basta!
Viveu e vive ansiosa na presença de estranhos. Prefere o lar, a família.
Não busca facilmente novas amizades, mas é caninamente fiel às antigas.
Foi modelo, professora e costureira.
Espera viver mais vinte anos com saúde.

Historieta familiar I

Acordava tarde e dormia tarde.
Evitava coisas de café da manhã com família, detalhes de vida escolar de filhos.
Saía para longas voltas na noite, dizia que assim evitava rolar na cama perdido em pensamentos conflituosos.
Anticlerical, quase agnóstico e muito e contraditório, começou em certa altura a exigir, à antiga, que os filhos lhe pedissem benção, com beijo na mão, para poder dizer: "Deus te abençoe!".
Temia câncer de pele, pelas pintas, mas fumava maços ao dia.
Odiou muito os "comunistas", mas no fundo tinha objetivos socialistas e equalitários.
Queria ser amado e legal, mas não sabia como.
Morreu besta e injustamente, lutando por causas justas bestamente, com sete tiros nas costas.
Mais um herói brasileiro que descança em paz!

domingo, 21 de setembro de 2008

Já vão tarde

Bush, Aznar, Bin Laden...
Aquecimento global, mais três bombas: uma bomba do ETA no País Basco, uma no Marriot de Islamabad e outra em Wall Street nessa última semana.
Não sei que sinais, que avisos mais precisaremos para entender que os caminhos tomados já apresentam suas claras consequências!
Cidadãos de bem do mundo, uni-vos!

Monarquia absoluta, blog perigoso

Ouvi a história ontem de um colega.
O rei daqui viajava recentemente com seu filho.
Um policial teve a oportunidade e elogiou, diretamente ao monarca, a beleza do principezinho.
O rei, agradecido, conversou com o guarda, e perguntou se estava satisfeito com a vida no reino ou tinha alguma demanda.
O guarda solicitou uma licença para ser taxista, no que foi prontamente atendido pelo rei, cuja vontade é soberana!
Um cidadão de Agadir reclamou, no seu blog, que o rei não deveria ter esse direito de "furar a fila", pois o país é pobre e muitos esperavam a oportunidade e tudo o mais...
Pegou dois anos de cadeia por desacato!

sábado, 20 de setembro de 2008

Bananeira não sei, bananeira será?

Isso é lá com vocês!
BR 116, Régis Bittencourt, estrada da morte ou da banana.
Musa paradisíaca, nanicão do Vale do Ribeira, rizoma radiculado, tronco mole, aquoso, se metamorfoseando em folhas, as maiores de um metro de largo, mastro de quatro a cinco metros de comprido, ao vento, bandeiras verdes quando novas, ainda mais depois das constantes chuvas ou de pulverizadas, muitas vezes de avião, com óleo e fungicida. Depois vão se amarelando, rasgando, ficando marrons, morrendo e revivendo como adubo.
E de repente do centro do tronco ali no meio das folhas novas ainda enroladas, sai um pendão com um coração roxo, cartucho com às vezes mil frutos embrionários!
Lá nas exposições tinham cachos campeões de mais de cem quilos, lindos, ainda verdes. Pois, fruta sensível, só se amadurece a banana comercialmente com um processo químico "artificial", dito climatização: numa câmara fria, através de um "catalisador borifador" elétrico alimentado com acetato de etila, se esparge no ar os produtos da quebra do acetato, que se transforma em etanol e acetileno (ou etino), este último o mesmo composto que as frutas geram em seu processo de amadurecimento.
Banana boa então, para nao bater e escurecer, precisa ser colhida sobre espuma, ou enganchada diretamente do pé em cabos de teleféricos, sistema mais tecnificado e caro, por isso pouco usado no Brasil, que perdeu seu lugar de exportador para o Equador, Costa Rica, Martinica, etc.
Banana que a criança e o velho comem, que faz bem, que tem potássio, açúcares lentos e vitaminas, que cicatriza, que nutre. My business was bananas!

Café

Avançando rápido junto com os trilhos da britânica São Paulo Railway Company, o "general café" pariu nos anos 1920, 30 e 40 as cidades do espigão entre o Peixe e o Tibiriçá, paralelos do Tietê e Paranapanema na busca do Paraná, que desagua em Buenos Aires.
Nem se falava em "robusta", o que se conhecia era "arábica", planta iemenita, que o pastor árabe sabia que animava as cabritas...
Folha comprida e levemente encrespada nas bordas, de um verde intenso, bandeira, e brilhante: posso vê-lo na imaginação, pés antigos, alguns de muitas décadas e de 7 metros de altura, só se apanhava o café das pontas com uma longa escada triangular, duas pernas com os degraus e a terceira fazendo tripé, já que os troncos são frágeis, ruas intermináveis serpenteando curvas de nível. Algumas plantações eram "orgânicas", fertilizadas no estrume de boi e "cama" de galinhas e na palha, do próprio café, de arroz. Já se fazia fertilização líquida, pulverização de micro nutrientes quelados, lindas as cores dos sais de cobre, zinco, boro, molibdênio, magnésio, etc, que meu tio Roque Vilani pesava numa balancinha de braços e separava em frasquinhos como um farmacêutico, como um agrônomo prático que era, para depois fazer a sopa que ia no tanque da traseira do trator. A florada era espetáculo de pequenas flores, rendinhas brancas nos ramos marrons, os "chumbinhos" crescendo verde claro, as "cerejas" se inchando e avermelhando até a colheita sofrida. Sofrida para as plantas, para os frutos e para os colhedores (será que já aprendemos algo com os cafeicultores colombianos?), que a esperavam ansiosos para ter "o" dinheiro do ano. Famílias enormes, patriarcais, molambas algumas, nessa hora muitos braços faziam diferença. Lembro de uma de treze filhos, o pai com lábio leporino, submisso e sorridente, cujo toquinho de 4 anos, último da escadinha que se ia amiudando, apanhava seu tiquinho para compor uns cascalhos e matar a fome dos quinze na tapera de barro!
Trator com carreta se enchendo, sacos de pano grosso de algodão sujo de terra, descarregar no terreirão calçado e ficar virando com uns rodos grandes de aço, recolher tudo de noite, para não apanhar o sereno e tomar muito cuidado com chuva, mas ningém era bobo de deixar o tempo virar sem se aperceber, juntar os cones montanhas, cobrir com as lonas enceradas, botar os pneus velhos nas pontas para não descobrí-las um vento forte, guardar quando seco na tuia... vender prá Cooperativa, para o benefício, mas na hora certa! A "poupança" e a "bolsa" de todo aquele sistema complexo e arcaico ao mesmo tempo...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Quem fazia o quê?

O Herculiani vendia peixe salgado por atacado. O Velanga arquitetava como o Lírio. O Clementoni, diziam, vendia terrenos na praça.
O Shimabukuro, pastéis e outros salgados. O La Valle, restaurateur, mas no tempo se dizia dono de restaurante. O Buonomo era importador de armas, armação de óculos e tudo mais que a Bota fazia e não entrava fácil no Brasil, mas fascista que se preza tinha costa larga na ditadura. O Puga era delegado. O "Pé de Veludo" roubava sem fazer barulho. Seu Chirnev tinha bar e venda. O Chirnevinho era jornalista esportivo e morreu cedo.
Seu Féres vendia pinga, mas não bebia e odiava bebum! O irmão dele vendia artigos de umbanda e dava risada das crendices do povo! (Uma vez perguntei o que ele fazia com as esmolas no pé do Zé Pelintra, se ele dava pros pobres, e ele riu e me zoou chamando de Tibúrcio). Knobel era "magnata" imobiliário. O filho extra matrimônio dele, pedreiro "pobre", ficou "rico" quando o DNA deixou. Os Freire vendiam e vendem carros, como o da Alpave e os Yazbek nos primórdios. Os Dantas faziam e consertavam guarda chuvas e sombrinhas. O Mori fazia carimbos. O Rosa vendia eletrodomésticos. O Nigro era fotógrafo. O Carvalho advogava como o Ramos, cuja cunhada, Bicudo, era dermatologista e a sobrinha ginecologista. Os Almeida usufruiam fortunas de terras herdadas, como os descendentes do Bento de Abreu Sampaio Vidal.
Pozzi construía casas e as alugava. Os Trad e os Macul, industriais têxteis.
O Scarabotolo era embaixador! Os Minei, farmacêuticos (comerciantes de remédio, não sei quem tinha ou não o diploma) como o Coneglian. O Silva era ofice boy do jornal no começo, meu colega de Cristo Rei e hoje dono da empresa e candidato. Os Tofolli tinham o tio padre que chegou a cônego (?). O Dr. Seixas, médico. O Camarinha era cartorário, o filho treinador de basquete. O Mesquita vendia diploma.
Casadei era médico, casdo com a Dra. Cleide, ginecologista, como o Dr. Salum, que me puxou e aos meus irmãos das entranhas da Dona Cida!
O Cabrini tinha marmoraria e o filho tá firme até hoje na dita!
O Giraldi fazia de tudo, filmava casamento, teve laticínio, ringue de patinação e padaria: um "Sebrae" avant la letre! Os Sasazaki faziam janelas, depois de implementos agrícolas... e o Arquer tinha óticas e fábricas de óculos.
O Cerqueira César era "cafeólogo" na Máquina União. Seu Antônio fazia de tudo nessa "máquina". Lá tinha uma legião de saqueiros, pobres anônimos cujos nomes nao sei, mas luziam de força bruta e suor. A Rosa japonesa, cabelereira, cheirava a laquê e tinha penteado B52´s.
O seu Justiniano, era fiscal da fazenda estadual e manso, a dona Vívian bibliotecária e brava. O Guimarães era fiscal colega dele.
O Matos era radialista, como o Mendonça, que também era dentista, como o Coimbra, como o Professor de Química Moraes! O Borges era sargento do Tiro de Guerra e professor de biologia. O Botino, cafeicultor, como meus tios. Muitas fazendas tinham café e gado de corte, mas lá nem tanto leite.
O Fernandes também era radialista, como o Santos e Vilani, cujo pai é radiologista...que foi casado com a Galvão, professora de biologia e dona de livraria. O Bento era (e é) professor de biologia, mas promovia bailinhos "de preto" no clube ferroviários (onde eu ia para dançar e me dar bem, beijar na boca sem muito compromisso, pois no Tênis as cocotinhas queriam mais do que eu tinha). O Mesquita consertava televisores, como o Paulinho japonês. O Doutor Eládio, anatomista dos bons, casado com uma Pessoa que vendia coisas do Ceará. Mocinhas do sertão vinham trabalhar e morar nas casas "senhoriais" e serviam a mesa quando tocavam um sininho! Os Gomes tinham empresa de ônibus, como os Brambilla. Quem fazia biscoito e macarrão eram os familiares da Ircemes, mas os Barion também. A dona Maria era lavadeira, a Marina até hoje cuida da casa e da minha tia Cota e agora do Nego, que tem madeireira. O irmão vende produtos zootécnicos, e o filho dele dá consultoria em informática, e a Belucci é fisioterapeuta. E quem são os frentistas de postos, as comerciárias, os bancários, ajudantes da construção civil? O povo, os muitos, que um dia serão o centro da história? Continue a lista você!
Stanno tutti benne!

Empório Cruzeiro e Casa Armando

O primeiro ficava na esquina da Rua Bahia com Carlos Gomes, vendia secos e molhados (o que para mim é uma forma de dizer "tudo", coisa de portuga!). De comer, talvez de usar na casa, produtos de limpeza e alguns utensílios.
Casa Armando eram as ferragens, no térreo de um dos prédios da Avenida, entre a Coronel Galdino e a Dom Pedro.
Lembro que os funcionários eram atenciosos e bem treinados, pareciam, para uma criança, conhecer todos artigos e cada cantinho, todas gavetinhas no caso da Casa Armando daquelas enormes prateleiras de madeira vetusta. Em todo caso, os donos trabalhavam quase de igual para igual com os subordinados, todos decentes em suas calças de tergal, camisas por dentro das cintas, dirimindo as dúvidas sobre especificações de parafusos ou características e qualidade de um comestível.
Veio o Dias Pastorinho e trouxe o conceito do supermercado, do auto serviço, da impessoalidade... e foram-se aos poucos a Dental Ramos, a Casa São Jorge, a Casa Ono, os cinemas São Luiz, Santo Antônio, Peduti e o Cine Marília, o Clube de Cinema, o Prêmio Curumin e se meu irmão não fosse apegado, nossa casa ia abaixo num desses booms imobiliários... Mas "tudo que é sólido desmancha no ar" e isso ja está indo pro saudosismo piegas! A classe média vai aos Shoppings Aquarius ou Esmeralda e se esbalda! Velhos tempos morreram, viva os novos tempos!

Coralatex e Algodão N'Oreia

Campinas, para mim de 1984 a 1986.
Regente: Marcelo Onofri e a auxiliar a ... depois o Gramani assumiu quando o Marcelo foi pra Áustria...mas eu também já tinha saido!
Sopranos: Pat, Lu, Taninha, as irmãs gauchinhas, quem mais?
Contraltos: Carminha, as meninas de Torrinha, quem mais?
Baritonos: Armandinho Onofri, Joãozinho, quem mais?
Baixos: Neco, Fábio, José Eisenberg, Ric, eu, quem mais?
Tomar fosfosol! To esquecendo nomes... pessoas queridas!
Filhos mais novos do Algodão n'Oreia, coral cênico, nos divertiamos e divertíamos as platéias, cuidavamos do corpo, da voz. Lembro que saía de casa como se fosse para a yoga, sabia que durante aquelas duas noites da semana não me preocuparia com mais nada além de cantar bem! Zen!

Taba

Em 1985 esse foi o embrião da futura moradia da Unicamp...a primeira do Brasil que merece o nome, pois a outra era o Crusp... vá lá, também foi um bastião! Tinha as casas de estudantes de São Carlos, da Bahia, mas a idéia nossa era outra, não sei se chegamos lá mas muito se caminhou!
O "pai da Taba" não esteve presente no seu nascimento: outros a pariram "tomando" a parte de cima do Ciclo Básico, que a Pedagogia tiva vagado! Deu a idéia, que vingou, e foi passar uns tempos filosofando, dando aulas e conhecendo a futura esposa!
Miltão, Ubaldo, Pimenta, Ricardinho, Juscelino, Lu, Tchezinho, Tchezão, Lampião, Takeo, Olalekan, os "função" (paulistanos envocados) da Alimentos: Mentira, Sérgio, Martin, quantos mais passaram por lá?
Depois de despejado (em conjunto com o casal amigo que compratilhava a república), morei lá alguns meses até achar um aluguel que eu pudesse pagar, tempos duros!
Turbilhão: coletivo anarquista, afronta ao futuro ministro Paulo Renato Souza, o então reitor cheio de ambições.
Meu rito: todo sábado eu limpava o banheiro (imundo, mesmo as minas eram meio porquinhas!), era minha contribuição importante e calada e até hoje prezo muito quem lava banheiro! "Quem não vive para servir não serve para viver" dizia minha avó Maria!

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Politécnica e Unicamp

O tempo foi passando e acabei na Poli.
Minhas colegas de lá que me perdoem, mas tinha pouca mulher e a maioria a gente dizia que Deus tinha perguntado se elas queriam ser bonitas ou ir prá Poli...
Fui prá Química pra me livar da "Poli de baixo", foi melhor, mas continuava aquela coisa: pouca mina (mesmo a química sendo a campeã com honrosos 25% de mulheres), muito judeu e muito oriental (pera aí, não sou preconceituoso, não, eram os caras que tinham preconceito de caipira que nem eu!!).
Além do que a política tava em baixa, alienação geral... malufismo e alguns lampejos petistas. Deu prá mim! Tinha amigos na Unicamp e comecei a me interessar, até tomar coragem (empurrado por crises existenciais dignas dos vintes e poucos anos e uma orfandade recente, acho que vocês me entendem...).
Fui prá Unicamp, valeu. Coisa de interior, mas uma capital do interior, né!
Tinha City Bar e Paulistinha, festa a pampa, namoro e cerva no entorno do Centro de Convivência (ou Conivência, como brincávamos) Cultural!
Tempo bom, né. Aprofundar em Cinema, Teatro, Fotografia, Artes Plásticas em geral, Humanidades, cantar no coral (Coralatex) e acompanhar a cena de clássicos, jazz e mpb que rolava!

República

Depois de umas repúblicas até legais (salve Gu, salve Renato César de Souza), mas com algumas caretices(viva seu Hélion e viva seu Chuffi, viva seu Paulo Vidal!), nas quais morei em São Paulo, a república da Sampaio Ferraz 175, no Cambuí, em Campinas, foi o máximo do coletivismo odara. Cláudio, João, Maurício e o finado Giba (3o anista genial de engenharia elétrica e um pusta punk, caiu de moto nas férias, bateu a piuca na sarjeta, se findou; depois veio a mãe com a mina buscar os trecos, que deprê!).
Dinheiro que é bom neca, mas não fazia tanta falta!
Fusca de um, bumba, a pé, pertinho do agito, todos vinham em casa e as presenças abundavam, antes e depois das saídas noturnas, amigos na redondeza, a casa dos meus sonhos em termos de convivência (já que a estrutura física estava perto de um lixo!): entradas e saídas, porta sempre aberta, amores e amizades.
A coisa foi num crescendo que depois da saída do Cláudio (tinha grana e comprou uma chácara maravilhosa no Guará, onde nos brindou com muita hospitalidade e amizade) eu o João e o Maurício passamos a ter um guarda roupa comum, composto de calças xadrezes e multicoloridas, coisa de hippie-já meio new wave, com camisas também bizarras e casacos e acessórios estapafúrdicos ganhados dos avós, de amigas e amigos ou comprados em brechós!
Com cabelos encaracolados, mais ou menos o mesmo porte físico, e eu e o Mauríco de óculos, aos incautos parecíamos "gêmeos".

Cristo Rei

Do Amílcare pro Cristo Rei... bombas na cabeça e literalmente, período piromaníaco e depredatório, testosterona demais e juízo de menos...
Meu pai nunca estava "na minha" para dar uma luz das merdas que eu fazia, então eu fazia (puta desculpa esfarrapada)!
No "cursinho" (nosso terceirão integrado, sem provas, só o vestibular interessava, sábios os canadenses Berckmans e outros e os brasileiros Olinto e Nilson Borges), meu lugar preferido era a cantina da Rosa com os maravilhosos risoles de carne e palmito que eu sabia exatamente que horas (9:15) o menino filho da salgadeira ia entregar numa caixa de papelão!
Tempo que eu tinha dinheiro (trabalhava como professor particular e até namorei uma das alunas!) e me dava ao luxo de ter aquela "conta" e pagava os lanches por mês... mesmo se algumas vezes eu manobrava para enganar a Rosa e seu filho num ou noutro salgado, coisa de malandro otário que fui, enganar aquela mulher boníssima e carinhosa demais conosco!
Mas o tal do Colégio Cristo Rei de Marília foi uma usina de gente bem sucedida, forjou alguma coisa que preste (daquela "cuvée" do final dos 70 e começo dos 80 não tenho dedos para contar os livres docentes, profissionais e empresários de sucesso, ou simplesmente bons cidadãos que saímos). Salve Francisco Chaves de Moraes Filho, Raul Borges, Lázaro Bento, Moisés, Santana, Salete Feifer, Profa. Tassára e tantos outros que comeram giz e gastaram saliva conosco. Gratidão eterna!

Admissão

O curso não tinha mais serventia prática (de preparar-nos para o exame de admissão ao ginasial), mas era um reforço no caixa das professoras, que alugavam uma sala e assim tínhamos dois períodos de aulas, as da manhã gratuitas e as da tarde a um preço módico, quase qualquer família do nosso meio podia pagar aqueles cobres para se ver livre das pestes; salvo as muito pobres ou as mais abastadas, que iam botar as filhas no balé, no inglês, no piano e outros ...
A aula da tarde era muito mais relaxada, íamos de shorts e tênis (se é que aqueles kichutes e verlons chulezentos eram um tênis), de bicicleta e podíamos tomar tubaína durante a aula, para o que emendávamos três canudos, o ar entrando em cada emenda, colocávamos as garrafas no chão e ficávamos mamando horas aqueles intermináveis 600 ml.
A Da. Cecília tinha uns jograis mnemônicos mesmo, pois me lembro deles até hoje:
Afluentes da margem direita do Rio Amazonas:
Jumundá, Japurá, Tefé, Purus, Madeira, Tapajós, Xingu e Tocantins
Preposições:
a, ante, até, após, com, contra, consoante, conforme, de, desde,durante, per, por, para, perante, sem, sobre, sob, salvo, trás, mediante
E isso se cantava a pleno pulmões e batendo pés no chão e mãos nas "carteiras" (na verdade escrivaninhas duplas muito rústicas), parecia que o mundo ia vir abaixo, corando a professora e nos fazendo chorar de tanto rir!
E no recreio da tarde, eram as mesmas brincadeiras da manhã (pega pega, polícia e ladrão) mas sem o medo de suar e voltar sujo para a sala, uma alegria infinita!

Chora Bananeira

Continuando a seção nostalgia, no Amílcare a moda era voltar de ônibus e encher tanto o saco do motorista e do cobrador (imaginem cinquenta moleques infernizando mesmo) que eles nos levavam para a delegacia, portas fechadas, quando não pulávamos pelas janelas estreitas daqueles velhos Mercedes O362 da Empresa Circular...
Na maior parte das vezes tudo não passava de ameaças, mas quando a coisa se concretizou, o delegado não tinha muito a fazer a não ser dar o sermão e ameaçar de chamar os pais, na próxima...
Como conseguíamos os tirar do sério? Cantando marchinhas escatológicas e pornográficas, das quais a mais conhecida era "Chora bananeira", cujas quadras voltavam sempre ao refrão:
"Chora bananeira, bananeira chora,
Chora bananeira, meu amor já foi embora"
e cada um conhecia uma quadra, ou inventava.
Vou ficar numa "suave"
"Paulista sem pau é lista
Paulista sem lista é pau
Tirando o pau do paulista
Paulista fica sem pau"
e a coisa ia num crescendo do tipo:
"Encima daquele morro
Tem um pé de uva preta
Nunca vi mulher bonita
Com uma pinta na ..."careta"..."
(acho que vocês pensaram a palavra que ia no lugar da careta, né!)

Sabonete Jesus

"O sabão lava o meu rostinho
Lava meu peitinho
Lava minhas mãos
Mas Jesus prá me deixar limpinho
Quer lavar meu coração!

Quando o mal
Faz uma manchinha
Eu sei muito bem
Quem pode me limpar
É Jesus, eu não escondo nada,
Tudo ele pode apagar!"

(Se você só ler esse post, vai me tirar de crente!
Não me estranha não! lê dois posts abaixo, manô!
Não sei porque, ao editar esse post "subiu' uma posição...)

Eu Te Amo Meu Brasil

Autor: Dom

As praias do Brasil ensolaradas
O chão onde o país se elevou
A mão de Deus abençoou
Mulher que nasce aqui
Tem muito mais valor

O céu do meu Brasil tem mais estrelas
O sol do meu país mais esplendor
A mão de Deus abençoou
Em terras brasileiras
Vou plantar amor

Eu te amo meu Brasil, eu te amo
Meu coração é verde,amarelo,branco,azul,anil
Eu te amo meu Brasil, eu te amo
Ninguém segura a juventude do Brasil

As tardes do Brasil são mais douradas
Mulatas brotam cheias de calor
A mão de Deus abençoou
Eu vou ficar aqui
Porque existe amor

No carnaval os povos querem vê-las
No colossal desfile multicor
A mão de Deus abençoou
Em terras brasileiras
Vou plantar amor

Adoro meu Brasil de madrugada
Na hora em que estou com meu amor
A mão de Deus abençoou
A minha amada vai comigo aonde eu for

As noites do Brasil, tem mais beleza
A hora chora de tristeza e dor
Porque a natureza sopra e ela vai-se embora
Enquanto eu planto o amor


(o mais engraçado eram os laralará que botávamos nos fim das frases e as paródias das quais a mais famosa começava com
"Maconha no Brasil foi liberada, laralará
Até o Presidente já fumou, laralará
Agora eu entrar na minha
Vou fumar maconha e tomar bolinha!"

Marília II

No Monsenhor Bicudo, para nós "Instituto" (tínhamos para o bolso das camisas brancas um distintivo com um belo tucano e a sigla IEMB), o recreio eram as balas 7 Belo da Ailiram com sodinha Gatti, vendidas no 3o ano pela própria professora Da. Elvira, que precisava reforçar seu salário, claro que depois de uma refieção mais saudável, a grossa sopa com macarrão, carne moída e legumes que era preparada sob o comando da Da. Messias, uma crente pequena e sequinha, com um cabelo enorme amarrado em coque e que, além de levar as merendeiras, auxiliares e nós crianças com pulso firme, usava também o pulso para balançar quatro vezes pela manhã um pesado sino de mão que anunciava a hora de fazer a fila pra cantar na entrada, a saída do recreio, a volta do recreio e o fim das aulas... Belém, belém, belém! Mas ela também era carinhosa a Da. Messias, lembro de alguns afagos daquela criaturinha meio Zezé Macedo...
E a cantoria não podia ser mais "Arena": Dom e Ravel (Eu te amo, meu Brasil!), os hinos, o hino da Copa (90 milhões em ação, exata metade da população atual!!!) e eventualmente uma música crente (éramos predominantemente católicos, mas já se achava de bom tom não ser exclusivista, então pareciam lá uns crentes e nos ensinavam coisas da escola dominical, uma que eu lembro vai no próximo post...).

Bendita chuva

Quem veio do Vale do Ribeira, de pluviosidade amazônica, sente falta de chuva.
Aqui em El Jadida é o fim do verão, campos já limpos esperando a semeadura da nova safra de trigo. Ontem vim cedo para casa, horário de ramadan, comi, como sempre "morto" de fome e sede e dormi muito cedo.
Acordei há pouco e escutei um barulhinho bom e me disse: Será que é chuva??
Abri a janela para me certificar, posto que não é chuva tropical, brasileira, mas ela estava lá, lampeira e pimpona, fresca, criadeira, lavando a poeira...
Não, não é coisa de fazer enxurrada, de encher bueiros, mas é uma chuva boa, esperada, desejada, ansiada, chuva de deserto que os pobres camponeses daqui prezam como o maná, como o poder comer daqui há alguns meses, antevendo a fartura...
Que Deus lhes dê o que querem! Aliás, se reza funciona, Deus tinha que melhorar muito a vida deles, tanto que eles rezam, ainda mais no ramadan...
Mas desconfio que o merecimento vem mais de outras coisas que desses ritos arcaicos!
Tenho a minha religião: gostar da humanidade e respeitar cada um como se fosse eu mesmo (vá lá, isso é muito cristão; pois que seja, mas sem missa!).

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Marília

Dizem que só se é universal quando se compreende e se traduz nossa província.
Grande pretensão, mas quem não é pretensioso não chega a Roma!
Então tenho que contar da minha Marília: não a que existe lá, das "Universidades" Univem e Unimar, nem mesmo da Unesp, nem da Famema "emcampada"...
Quero falar de uma Marília pretérita, antes dos conjuntos habitacionais Castelo Branco e Costa e Silva e da rodovia BR 153. Quando a avenida Sampaio Vidal recém inaugurava o Edifício Clipper, nosso arranha céu de 14 andaresque que vinha suplantar os outros 3 "prédios" então existentes (pois assim chamávamos os que tinham, digamos, mais de cinco andares). Sorveteria era a da esquina da 9 de Julho com São Luiz, Samuara Bar e Carango eram para os "velhos" de vinte e poucos anos, que tinham carros e fumavam, que namoravam...
Os confins eram o estádio de beisebol Fragata, o parque Príncipe Mikasa e o colégio Vila Polon, o Yara e o Cristo Rei, quando muito a Caic e o Bosque, "buracões", itambés, por toda volta, os sítios dos japoneses e demais migrantes e imigrantes, os peixinhos do seu Takana e o mercadão...o bon odori, exposição de orquídeas no Kaikan, a explosão do "corso" da copa de 70, quando a Biblioteca era o Ginásio Industrial!
E as brumas de inverno, sair na rua e soltar fumaça pela boca como um dragão, tomar cuidado para não cair da calçada, tao espessa a névoa que mal se via a luz no fim do poste...o primeiro caixa automático do Brasil, primitivíssimo, parecia uma ambulância "rádio patrulha" com luz rotativa em cima, mas que nos enchia de orgulho, afinal o Bradesco nasceu lá, como a TAM, como eu, o Sérgio Ricardo e sei lá mais quem...

Era da Incerteza

Acho que o termo é do Hobsbaum, ou seja, as previsões vão ficando velhas e de alguma forma se concretizando.
O declínio do império americano tinha que vir com todas turbulências bursáteis, naturalmente, estertores russos, a velha apatia européia, afinal são um amontoado de "pequenos" países, mais que realmente uma potência una, a China e a Austrália, dois pesos e duas medidas, a Índia saindo da pobreza?
O que será do Brasil petroleiro? Passos de tartaruga, vida de mosca!
Antes que eu aprenda a viver, vou ter que aprender a morrer, destino cruel.
Morre um Pink Floid, Saramago quase morreu, os Rolling Stones se aguentam, Caymi se vai, e eu mesmo nao me sinto muito bem... salve-me Caetano Veloso, Gil, Chico e minha mãe!!

domingo, 14 de setembro de 2008

Jardins marroquinos

Outra vantagem do Marrocos: revalorizar os jardins e a cor de flores e folhas.
Acho mesmo que a tradição dos jardins é mais árabe que greco romana...reparem como aparentemente para fugir e se refrescar da aridez, os árabes talvez foram inventores desse conceito de cerca viva, de jardim ao redor da casa, e das fontes, espelhos d'água, etc.
Então, na rua, é um tal de achar lindo um hibisco vermelho sobre o verde vivo de suas folhas, valorizar mesmo as marias sem vergonha, as buganvílias ou primaveras de todas cores, as espirradeiras por todo lado, em rosas, brancos e tons intermédios, tudo que tenha cor, todos verdes e as demais variações cromáticas: signo de vida no deserto, vá lá, pré-deserto dessas costas e planaltos anti atlícos...

Fases da Lua

Outra vantagem de morar num país mussulmano... se reaprende a olhar a Lua, uma coisa simples no campo que ficou inútil e esquecida no meio urbano. Um mês lunar tem 29 ou 30 dias, então para simplificar, a cada duas semanas (e um bocadinho mais...) a Lua vai de nova (quando ela some totalmente) passa pelo "quarto crescente" (porque não é "meio crescente"?) e chega a "cheia"...
O Ramandan começou em 1o de Setembro, com o primeiro risquinho da Lua crescente. Ontem na cidade vazia da hora do Ftor (é, saí para procurar comida e a animação das ruas do começo do Ramadan não existia mais, todos em casa mesmo, os cafés vaziinhos, fui até o Ibis Hotel, uma harira básica, depois nao aguentei e matei um vermicelli em casa antes de dormir) vi a Lua gorda, quase cheia já, hoje sendo dia 14, a Lua deve estar no meio do mês dela, só nos resta meio Ramadan...
Tenho que admitir que meu auto controle com a comida não é lá essas coisas, comecei tentando encarar o costume deles, mas descambei, fui ao Golf Club comer bifes em plena luz do sol depois do trabalho (por volta das cinco da tarde), como um bom turista cristão ou ateu!

sábado, 13 de setembro de 2008

Romã

Sem grandes expectativas, comprei uma bela romã, outra tradição de ramadan.
Sem hipocrisia: como de dia, não jejuei porque não aguento ficar sem comer o dia todo, ainda mais no final de semana, sozinho em casa!
Voltemos à romã: meio sem jeito fui abrindo, descascando, descobrindo membranas, desvendando casulos e alvéolos, carpos,retirando os véus das intricadas estruturas que revestem e acolchoam bagas, cachos de "uvinhas"...pontudas e transparentes na base de inserção, subindo aos róseos e púrpuras no topo das "garrafinhas", mais redondos e cheios, fui "limpando" os cachos que abocanhei "inteiros".
Pressionando a língua no céu da boca e com leves mordiscadas cheguei ao suco: pequenas granadas explosões das quais sobram ecos numas fibrinhas tênues revestindo os caroços grandes, um por baga. Sabores doces, amargos sutis, adstringentes no final que enquanto escorriam para a garganta faziam um delicioso balanço e uma sensação maravilhosa de quero mais!
Que prazer simples: descobrir uma nova fruta que se gosta!

Trig Paxson van Palin

É esse o nome do pequeno e rechonchudo bebê de quatro meses da governadora do Alaska, escolhida vice na chapa do McCain.
Com síndrome de Down, quinto filho da bonitona mãe crente radical, o menino é um torpedo no costado de Barak Obama.
A mulher é a cara de um certo tipo de "família Walton", a paz marital no mundo conturbado e coisas assim, que tomou uns pontinhos do "meu neguinho", por quem torço todo dia mais um pouquinho!

Atlas e Saara Atlântico

Essas costas noroestes da África são secas e ventosas. Em El Jadida ventos úmidos do norte, frescos. Do interior vem o bafo (seco) do deserto. Canárias e Cabo Verde assim também, parece.
Não tem o doce dos coqueirais nem a exuberância da Mata Atlântica. E os mangues e a Amazônia? Tudo ali sabe a lá, tudo aqui sabe a cá!
Pendulava entre os lados do Atlântico norte e sul, Marrocos Brasil.
Saber que eu me mantinha brasileiro e tinha dali o pertencimento me fazia curtir a diferença cultural, ramadan incluso.
Cheio de regrinhas de etiqueta mussulmana... descobri que tem até lei com cana e multa tem para quem afrontar publicamente o jejum.

domingo, 7 de setembro de 2008

Ftor

Ftor é o nome da "primeira" refeição do dia no ramadan...
O primeira foi entre aspas pois pode se comer antes da primeira prece, antes do primeiro raio solar, o que está aqui por volta das 4 da manha...
Entao, agora aqui por volta das 19 e 30, todos em casa comendo: harira (a sopa forte do ramadan, com carne, tomate, grão de bico e infinitos temperos e variações), ovos cozidos, leite, massas com mel, "pães" típicos, um espécie de paçoca de amêndoas e mel, tâmaras, etc.
As ruas ao redor vazias, nenhum carro, nem os "petit taxis", fui atrás de coca cola e só um cachorro latia em alguma casa, parecia apesar da tranquilidade, que havia caído uma bomba de neutrons, todos mortos, só as casas de pé!
É que ninguém fala: comem muito, em silêncio, depois de chegarem perto de alucinar na última meia hora final antes do rango, minutos compridos já com a mesa posta ou com as coisas terminando na cozinha!
Agora já as crianças riem, os adultos falam e os carros e motos começam a circular!
Terminou a primeira semana do Ramandan, lua quarto crescente deve se encher e minguar!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Ramadan

Até restaurantes fechados, nada de comida entre o nascer e o se por do sol, nada mesmo de água, cigarros, só oxigênio!
Vamos ver se isso purifica!
Tem muitos que até engordam, comem demais à noite, acordam de madrugada para comer.
E é óbvio que a produtividade baixa...
Mas se vim a esse mundo para conhecê-lo, vou também prová-lo...
Jejuar profundamente!