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sábado, 13 de março de 2010

De Waly Salomão

"Sou sírio. O que é que te assombra, estrangeiro,
Se o mundo é a pátria em que todos vivemos,
Paridos pelo caos?"
- Meleagro de Gádara, 100 anos a.C.

"Tarifa de embarque"

Não te decepciones
ao pisares os pés no pó
que cobre a estrada real de Damasco.
Não descerres cortinas fantasmagóricas:
camadas de folheados
- água de flor de roseira
- água de flor de laranjeira –
que guloso engolias,
gravuras de aldeãs portando ânforas ou cântaros,
cartões do templo de Baal
e das ruínas do reino de Zanubia em Palmira,
fotos do Allepo, Latakia, Tartus, Arward
que em criança folheavas nas páginas da revista Oriente
na idade de ouro solitária e febril
por entre as pilhas de fardos de tecidos
da loja Samira;
arabescos, poços, atalaias, minaretes, muezins,
curvas caligrafias torravam teus cílios, tuas retinas
no vão afã de erigires uma fonte e origem e lugar ao sol
na moldura acanhada do mundo.
Síria nenhuma iguala a Síria
que guardas intacta na tua mente régia.

Nunca viste o narguilé de ouro que tua avó paterna
- Kadije Sabra Suleiman-
exibia e fumava e borbulhava nos dias festivos
da ilha de Arward.
Retire da tela teu imaginário inchado
de filho de imigrante
e sereno perambule e perambule desassossegado
e perambule agarrado e desgarrado perambule
e perambule e perambule e perambule.
Perambule
- eis o único dote que as fatalidades te oferecem.
Perambule
- as divindades te dotam deste único talento.

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