“BEZERRA DA SILVA – UM PRODUTO DO MORRO PROVA E COMPROVA SUA VERSATILIDADE”
“Alô malandragem! Se liga pra não dar mole à Kojak! Quando os homens da lei grampeia, o couro come toda a hora, amizadi”.
(Introdução dita por Bezerra da Silva no samba “Malandragem dá um Tempo”)
Pequena Biografia
A história de um brasileiro: José Bezerra da Silva. Partideiro indigesto sem nó na garganta, autêntico porta-voz do morro. As injustiças na favela eram denunciadas com irreverência, na base de um partido alto nota 10, samba da melhor qualidade. Já diria o partideiro da pesada, que se orgulhava do “nada consta” em sua ficha policial: “Se não fosse o samba, quem sabe hoje em dia eu seria do bicho”. Afinal de contas: malandro é malandro e mané é mané!
Natural de Recife, o menino, abandonado pelo pai e criado pela mãe na capital pernambucana, sempre teve gosto pela música, sendo um grande tocador de zabumba. Porém, sua prática era proibida por sua família, com quem tinha seguidos conflitos. Após se desencantar com a Marinha Mercante, viajou clandestinamente no porão de um navio rumo ao Rio de Janeiro, sendo descoberto quatro dias depois pelo comandante. A partir de então, não seria mais José e sim Bezerra, de modo a se distinguir de tantos josés da silva vindos do Nordeste.
“Eu sou aquele que chegou do Nordeste pra tentar
Na cidade grande, minha vida melhorar”
(Música “O Preço da Glória”)
Bezerra se instalou no Morro do Cantagalo, o popular “Morro do Galo” que sempre seria exaltado em seus sambas. Vivendo em barracos, exercia o ofício de pedreiro. Anos depois, chegou a viver um período de dissabores, em que, como mendigo, viveu na rua das amarguras sem ter nada pra comer. Para ele, o preço da glória foi doloroso e cruel, pois “comeu o pão que o diabo amassou e em seguida uma taça de fel”, fruto amargo das seguidas prisões injustas que sofrera.
Neste meio tempo, se converteu à umbanda, que lhe salvou a vida e lhe proporcionou novos e áureos caminhos. Na gíria umbandista, Bezerra “só batia cabeça pra vovó”, pois sempre estava “zero a zero com o vovô”, não devendo nada a ele. Afinal, seu pai era general de umbanda. Após anos dormindo na sarjeta, Bezerra da Silva estava se formando na universidade do mundo.
Entre tantos trabalhos que realizou como instrumentista, Bezerra gravaria seu primeiro compacto em 1969, com as músicas “Essa Viola é Testemunha” e “Mana, Cadê meu Boi” (esta última reapareceria no álbum gravado em 1993 por Bezerra). No ano seguinte, gravaria o LP “O Rei do Coco”, porém lançado apenas em 1975. “O Rei do Coco, volume 2” seria gravado em 1976. Estes dois discos, que não obtiveram tanto sucesso, tinham como característica este gênero musical nordestino: o coco.
“Graças a Deus, consegui o que eu queria
Hoje estou realizado
Terminou minha agonia”
(O Preço da Glória)
É ESSE AÍ QUE É O HOMEM - O caminho para o sucesso começaria a ser trilhado em 1977, quando Bezerra gravou, junto com Genaro Soalheiro, seu primeiro disco de samba: “Partido Alto Nota 10, volume 1”. Os volumes 2 e 3 de “Partido Alto Nota 10” seriam lançados em 1979 e 1980, respectivamente. Genaro, que também produziu os discos de sambas-enredo do Rio até 1997 (um ano antes de falecer), compôs com Bezerra a dupla 5+5, cujo dueto sempre aparecia em pelo menos uma faixa nos discos seguintes do sambista.
Seus primeiros sucessos foram “A Necessidade”, “Malandro Demais vira Bicho”, “Malandro não Vacila”, “Piranha”, “Dedo Duro” e “Pega Eu”. Em “Dedo Duro”, Bezerra da Silva desfila seu veneno de “cobra criada” contra os alcagüetes, aqueles que entregam os irmãozinhos – que estão efetuando o tráfico de drogas ou consumindo o produto – para a polícia. Afinal, a lei do morro é como se fosse um lema: “nunca vi ninguém dar dois em nada, mas se ver tá tudo bem”. Outros sambas que falam sobre “cagüetagem”: “Defunto Cagüete”, “Defunto Grampeado”, “Mudo Cagüete”, “Ele Cagüeta com o Dedão do Pé” e “Tem Coca aí na Geladeira”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário