Diário Esporádico: escrito por ROBERTO CORRÊA DE CERQUEIRA CÉSAR, um engenheiro escritor, taurino, pai de dois meninos (por quanto tempo ainda?), com cabelo embranquecendo e caindo, ficando cada dia mais cego!
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segunda-feira, 4 de junho de 2012
Meu irmão veio me ver
Saiu de Marília ontem de noite, chegou cedinho na Rodoviária da Barra Funda pelo Expresso de Prata. Reclamou de um vizinho de poltrona que fedia a cigarro envelhecido e que quando acordou foi fumar no Castelão e voltou da parada ainda mais fedido...ele não pregou o olho devido a isso e outras vicissitudes.
A audiência do Alcalde foi infrutífera, aquela bolada ainda não ia pintar. Falei para ele da proposta da “nua propriedade” de sua casa feita pelo cunhado, ele estrilou, mas soube, como já sabia, que tem quem o apóia por trás. A segurança da família lhe foi restituída, não que ele tenha vindo atrás disso ou quisesse sobre ela ter que lhe lançar mão.
Falamos muito da morte que se aproxima, da incompletude da paternidade (nem os pais nem os filhos são os desejados por cada parte, apenas os possíveis de lado a lado). Falamos de mulher (a ex dele, a atual minha), falamos de cuidar da casa e da prole. Falamos em como nos portarmos diante de gente mais poderosa ou de subalternos. Intuí que até os mendigos e bandidos do Centro são fontes de ensinamentos (caso contrário eles se insurgiriam, com conseqüências nefastas, contras os policiais da Rota que os abordavam, mas não, eles diziam Senhor aos guardas humildemente, assim como logo depois assaltavam um transeunte; tínhamos que agir como a situação nos propiciava).
A vida era não mais uma caixinha de surpresas: depois de tantos dias sobre a face da Terra, era mister não se absurdar com a passagem célere dos dias, nem encontrar espanto nas coisas bizarras que se multiplicavam. Era aprender a viver.
Tapávamos os narizes saltando os sem teto da São João. Uma mulher carcomida pelo crack abaixou o jeans surrado e mijou copiosamente na calçada, mostrando os cambitos das coxas que escondiam a vagina de onde escorria o jorro amarelo. Tive certeza que não podia fazer nada por ela ali. E que nem franzir a cara em sinal de nojo me trazia contentamento ou alívio pelas dores do mundo à minha volta. Fiz cara de paisagem.
Busquei o Metrô, onde meu irmão iria até a Paulista falar com o Quincas. Beijei seu rosto sob a luz do sol da uma da tarde nesse quase inverno, e disse:
“Aprenda a dizer: Sim, Senhor!”
Não sei se ele captou a mensagem. Desceu as escadas, grato, e sumiu.
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