A entrega para a cidade da ciclovia da Avenida Paulista possui um valor simbólico e importante. É uma cidade que está sendo aberta para o convívio de todos. Uma vitória histórica para São Paulo e o primeiro passo para a conquista definitiva da Paulista e da cidade pelas pessoas
Por Chico Macena*
A Prefeitura de São Paulo estuda abrir a Avenida Paulista para as pessoas aos domingos. Sim, abrir a Paulista e não fechar. Diariamente, passam pela via 1,5 milhão de pedestres e 90 mil veículos, segundo dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).
Durante a inauguração da ciclovia da Avenida Paulista, no último domingo (28), a via virou um grande parque. Foi ocupada por dezenas de milhares de pessoas que caminhavam, pedalavam e celebravam a possibilidade de vivenciar essa experiência marcante. Idosos andavam de mãos dadas, cadeirantes circulavam sem pressa, crianças brincavam com os pais. Foi uma verdadeira festa a céu aberto. Isso demonstra que é hora de dialogar sobre a possibilidade de abrir para as pessoas a via mais emblemática da capital, palco de manifestações democráticas e de grandes festas.
A entrega desta ciclovia para os cidadãos irá beneficiar a todos e não apenas aos ciclistas. A atual gestão da Prefeitura de São Paulo teve a coragem de tirar do papel um projeto importante que certamente contribuirá para a redução de acidentes, inclusive os fatais.
A ciclovia da Paulista tem 2,7 km de extensão e em breve permitirá a ligação com a ciclovia da Avenida Bernardino de Campos, que terá 800 metros de extensão e está em fase final de obras. É importante ressaltar que estas duas vias também sofreram adequações no viário, aterramento de fios para passagem de fibra ótica e nova sinalização. As ações para a construção deste trecho do complexo cicloviário ainda preveem a instalação de 102 paraciclos (estacionamentos para bicicleta), a serem implantados em toda a extensão da Avenida Paulista.
Apesar das diversas tentativas de paralisar a obra ou mesmo impedir o seu início, conseguimos quebrar esse paradigma e agora o canteiro central já está ocupado por pessoas que transitam de bicicleta, patins ou skate, com segurança para suas casas ou trabalho, ou apenas para passear ou fazer uma prática esportiva. E isso tudo foi feito em seis meses, sob orientação de um plano cicloviário cujos estudos começaram na década de 1980, respeitando e preservando o patrimônio histórico local e amplamente debatido com a sociedade.
Além disso, a implantação da ciclovia da Avenida Paulista é importante para fazer a ligação entre os bairros do Jabaquara, Saúde, Bela Vista, Sé, Vila Mariana, Perdizes, República e Jardins, que em breve poderão ser percorridos exclusivamente por rotas cicláveis, que já somam mais de 300 km. O ciclista poderá ir com mais segurança da zona sul até a zona oeste, passando pelo centro e ligando com a região do Parque do Ibirapuera.
Ainda que pareça, esta não é uma ideia recente: há pouco mais de dez anos, acontecia o projeto “Domingo na Paulista”, promovido pela Prefeitura São Paulo, em que alguns quarteirões da avenida eram interditados para a circulação de carros e diversas ações de entretenimento eram ofertadas às pessoas.
A retomada dos espaços públicos é importante para humanizar a cidade, ainda mais na região da Avenida Paulista, que aos finais de semana se transforma em um local efervescente e cosmopolita e possui uma grande oferta de atividades culturais e de serviços com diversos polos de atração, como a Praça do Ciclista, o Parque Trianon, o MASP, a Casa das Rosas, e a proximidade com a Rua Augusta e com muitos outros estabelecimentos comerciais.
Por isso, a entrega para a cidade da ciclovia da Avenida Paulista possui um valor tão simbólico e importante. É uma cidade que está sendo aberta para o convívio de todos. Uma vitória histórica para São Paulo e o primeiro passo para a conquista definitiva da Paulista e da cidade pelas pessoas.
(*) Chico Macena, 52 anos, é administrador, Secretário do Governo do Município de São Paulo e autor da Lei 14.266, que criou o Sistema Cicloviário do Município.