O novo filme de Almodóvar tem novidades...
As cores berrantes dos figurinos e cenários foram substituídas pelo contraste entre o moderno dos eletrodomésticos e revestimentos domésticos, das BMW, dos ternos e vestidos da "última moda" e o "eterno" das construções toledanas.
Mas vamos ao cerne: os dois "filhos" de Marilia (sim, a personagem da grande Marisa Paredes chama-se Marília e essa não é a única referência ao nosso país...) não poderiam ser mais profundamente perturbados. Um é o cirurgião e pesquisador Robert Ledgard (vivido por Antonio Banderas) e o outro é um ladrão escroque capaz de vender a própria mãe...
Robert (chamado carinhosamente de Berto por Marilia) pesquisa uma pele artficial transgênica, pois com ela poderia ter salvado a mulher que o deixou viúvo. Aí ele toca os limites éticos da ciência, e este está longe de ser seu único delito.
Além disso Vera (a deslumbrante espanholinha mignon, Elena Anaya), um misto de cobaia de suas peles e amante platônica do grande cirurgião, vai revelar segredos profundos e viver sua "síndrome de Estocolmo".
Dentro de uma trama cheia de ambiguidades, onde passado e futuro se entrelaçam, mas nunca se confundem (pois a direção magistral é mestre em desenrolar as meadas) discute-se no fundo entre outras coisas o alcance da ciência médica na transformação dos corpos. A beleza "perfeita" de Vera/Elena Anaya contrasta com as marcas do tempo no rosto de Marilia/Marisa Paredes, idem para o contraste de Banderas e jovem Vicente...
Outra possibilidade de discussão, análise e reflexão que o filme propõe é sobre a questão da identidade constituída pelo corpo e pela psiquê. Vera é uma personalidade híbrida: se por lado seu corpo (sua pele) revela um ser feminino, sua psiquê é masculina. A personagem Vicente/Vera busca na força interior equilíbrio e na Arte, a expressão de mundo desintegrado e retalhado através de sua esculturas, desenhos e registros escritos.
Impõe-nos a reflexão: Como viver na pele que habito, uma vez que ela não representa minha identidade,o meu ser?
Ou seja, nesse tempo de disfunções sociais, é preciso nos reconciliarmos com a pele que habitamos...
Valeu, Pedrão!
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