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sexta-feira, 27 de junho de 2014

Há um lado bom na reação à mordida de Suárez porJosé Antonio Lima do Esporte Fino

A mordida de Luis Suárez em Chiellini, no jogo derradeiro da primeira fase para Itália e Uruguai, conseguiu eclipsar o espetacular feito da Celeste na Copa do Mundo. Ainda que pareça difícil fazer uma conexão entre a não expulsão do atacante uruguaio e a classificação de sua seleção, nenhuma outra parte do jogo mereceu tanto destaque. Na explicação para isso está uma boa notícia para o mundo do futebol.
O demissionário técnico da Itália, Cesare Prandelli, atribuiu ao árbitro mexicano Marco Rodriguez boa parte da culpa pela eliminação da Azzurra. Talvez mais por conta da expulsão de Marchisio, vista por muitos como exagerada, do que por não ter visto o lance de Suárez. Alguns dos senatori da Itália, entretanto, vão por outra linha.
Buffon destacou a “dura realidade” de um time que passou dois jogos de Copa do Mundo sem marcar gols. “Não se pode colocar sempre a culpa nos outros”, afirmou o goleiro. De Rossi foi mais incisivo. Disse que a Itália precisa de “homens”, não de estrelas. É um claro recado a Mario Balotelli, criticado por ser uma figura isolada do grupo, como mostra reportagem da Gazzetta dello Sport.
Enquanto a Itália tenta entender sua eliminação, o mundo aguarda a decisão da Fifa sobre Suárez. Houve até quem, em ato tão destrambelhado como o do uruguaio, tenha pedido sua prisão.
É curioso que a mordida tenha causado indignação coletiva. Há lances mais graves no futebol que ocorrem sem um único comentário polêmico. São tidos como normais. Mesmo alguns fatos anormais passam batidos. O volante camaronês Alex Song, por exemplo, foi suspenso por três jogos nesta mesma Copa do Mundo após dar uma cotovelada nas costas do croata Mario Mandzukic. O caso quase não teve repercussão.
A mordida, entretanto, é o assunto do mundial. Mas por quê? Em primeiro lugar, porque a mordida de Suárez em Chiellini, bizarra por si própria, é um ato alienígena ao futebol. Já vimos muitas cotoveladas como a de Song, mas poucas mordidas. Além disso, há um componente moral na mordida. O ataque a Chiellini foi visto por muitos como uma agressão moral ao zagueiro italiano, exigindo, assim, uma punição dura. Por este ponto de vista, a mordida equivale a uma cusparada, que atinge algo mais nobre que o corpo, pois fere a alma.
O fato de esta ter sido a terceira mordida de Suárez na carreira indica que ofender Chiellini não foi sua intenção. Aparentemente a mordida foi, e aqui vai uma dica ao psiquiatra do uruguaio, resultado do nervosismo de Suárez em um clássico tenso, exatamente como ocorreu naquele Ajax x PSV de 2010 e no Liverpool x Chelsea do ano passado.
A delegação do Uruguai, por óbvio, tenta defender sua estrela. O capitão Diego Lugano foi patético, e disse que as marcas de Chiellini são antigas. O técnico Oscar Tabárez foi ao ponto nevrálgico da discussão e tentou rebatê-lo. Segundo o treinador, vivemos um mundial de futebol, não de moralidade barata. Comentários pueris e inúteis. É muito provável que Suárez seja duramente punido, e a Fifa terá total razão ao fazer isso.
Para a tristeza de Tabárez, ainda que tenha contornos de exagero, a reação ao ato de Suárez tem um fundo bastante positivo. Com o mundo do futebol imerso em absurdos como lavagem de dinheiro e resultados arranjados, problemas sobre os quais os torcedores têm pouco a fazer, ainda há uma grande intolerância a atos vistos como imorais, como a mordida. É bom que seja assim, e que ao menos dentro de campo o vale-tudo seja condenado.

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