Eu não preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
Pois nem minha mãe me lê.
Nem preparo uma canção em que
todas as mães se reconheçam,
Pois sou besteirento e não atraio
Velhinhas.
Minha canção
Não fala como dois olhos.
Os dois meus são meio ruins
E vivem aturdidos.
Caminho por uma rua
que não passa em muitos países.
Se não me vêem, eu não os vejo
e nem saúdo velhos amigos.
Eu não distribuo nenhum segredo
Eu não amo ou sorrio.
No jeito mais antinatural
Meus carinhos se perderam.
Minha vida, nossas vidas
não formam um só diamante.
Não aprendi novas palavras
e nem tornei outras mais belas.
Eu não preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.
Definitivamente
Eu não sou
O Carlos Drummond de Andrade.
Bem que eu queria.
Que a canção fosse amiga
Que todos se reconhecessem nela.
Mas eu não sou o Carlos Drumond.
Não sou gauche como o Carlinhos
De Itabira.
Sou de Marília, pô!
Eu sou só o Beto.
De esquerda, meio gauche. Mas outro.
Pouco musical.
Isolado. Noturno também.
Talvez eu só adormeça os homens.
E acorde as crianças.
Que maçada!
Eu não sou o Carlos!
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