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terça-feira, 3 de março de 2009

Minúscula Carta ao Pai

Nem Kafka nem Borges, homenageio aqui o querido Seu Alexandre nos 25 anos de sua morte...
"Papai,
Faz tantos anos que não te chamo assim...sinto-me o seu baianinho, seu bundudinho, andando sem mexer meus pezinhos sobre seus pés, nossas mãos grudadas e você indo prá frente e eu indo de costas, coisa que depois reproduzi com meus meninos.
Lembro também do rio grande que cruzamos eu e o Xande em suas costas, a correnteza te arrastando e você com medo, mas deu tudo certo!
Lembro dos seus gritos para eu me afastar do pixe quente com o qual você colava os tacos soltos lá de casa da Gonçalves Dias em Marília, lembro da sua palmatória para o Tio Ricardo ir melhor na escola e umas surras que tu me destes também.
Mas hoje penso mais no carinho de pai.
A vez que usei uma chave quadrada que abria a porta do nosso banheiro na Rua Bandeirantes e te peguei cagando distraído no vaso (era para ser o Xande nas minhas contas). Morri de medo de apanhar; você riu, me acolheu e tirou o medo. Você era capaz de alegrias!
E nossas viagens de jipe nos entornos dos Rios Tibiriçá e do Peixe, a abertura da estrada Marília-Ourinhos lá nas Serras de Oriente e Ocauçu, as idas ao Hotel de Campo de Campos Novos Paulista. Lá dormimos algumas vezes e em outras tantas fizemos pequeniques dirurnos com o Doutor Eládio, Dona Lourdes, o Henrique, o Eladinho e o Eudoro! A represa grande com vertedouro, uma égua a atravessando a nado, o Dedo de Deus lá nosso (parecido, mas muito menor que o carioca).
E os encontros rurais (desafiadores para os sapatos de cromo dele, tão urbano) com o Moraes e Aracy e as demais professoras dos parques infantis onde a mãe trabalhou.
Sabe pai: nós crescemos! Não fomos tudo que você esperava, talvez tenhamos sido mais um pouco, mas nada disso importa. Vamos já para os cinquenta, a Inês em 2011, seu caçula, o Maurício, mouro, ainda no equinócio dos trinta para os quarenta, mas todos já "formados" seja lá isso o que queira dizer.
Uma pena você não estar aqui para ver seus netos!
Queria te dar esse abraço e te apresentar a Kátia, minha companheira (depois esposa) de já vinte e tantos anos e meus meninos, o Ariel com quinze e o Gil com doze!
Mas é tão difícil te encontrar (impossível dirão os materialistas como eu!) depois de tantos anos da tua morte! Tua presença é a tua tão grande ausência, tanta falta você (nos idos tempos eu só poderia e teria coragem de dizer: "o Senhor") nos fez.
E assim arrumei meus pais sociais, meus amigos que supriram um pouco sua falta: o Moraes, o Doutor Eládio, o Caetano, o Paul, e tantos outros, os tios e primos mais velhos, e também as mulheres que me supriram de afeto e alguma grana (a vó, a mãe, a Inês, as tias quase todas).
Tanta gente ajudou seu filho em seu nome ou em meu próprio que o senhor se orgulharia de como eles nos queriam bem e também repartiram comigo a dor da tua morte violenta.
Pai, fica com Deus e nos abençoe!
Um beijo e um grande abraço do seu ex caçulinha
Beto"

PS: Alexandre de Cerqueira César foi covardemente assassinado com seis tiros "pelas costas" (sendo que um atingiu a cabeça, acho eu) em 24 de Janeiro de 1984, na cidade de Assis - SP, por um "gato" de alcunha Maracaí (que infelizmente foi condenado e j´saiu da prisão há muitíssimos anos e deve andar solto se não morreu de "susto, de bala ou vício"), enquanto cumpria o dever público de Fiscal do Ministério do Trabalho. REQUIESCAT IN PACE!

2 comentários:

ludenmerlin disse...

m.a.a.t.

Marcão disse...

Betão...
Como são as coisas, convivemos tanto tempo juntos, e nunca nos conhecemos. Nunca soube de seu pai da sua mãe, ou você dos meus pais...
Você com certeza foi, e é um cara mais interessado em "conhecer", eu talvez pela condição ou formação pude menos, ou é desculpa para uma certa inércia. Lembro de você um "desbravador" do Vale do Ribeira, inquieto buscando lugares, coisas e culturas novas...
Enquanto juntos estivemos pouco nos conhecemos, tivemos sim alguns contatos forçados e formais por questões profissionais.
Eu sou espírita, não materialista, creio na imortalidade do espírito, que continuamos pela eternidae, existe um DEUS, sim! E nada na vida nos acontece por acaso, temos ligações que não lembramos, mas exite algo a nos aproximar que é além deste momento aqui na terra...
Bem na minha crença seu pai está muito feliz com suas lembranças e gratidão!
Que DEUS nos abençõe...
P.S como vc diz em um de seus posts seu diário é intimo e publico....eu já havia lido este post, me comovido com ele, mas não quis me manisfestar naquele momento, pos vc "ainda" não sabia que eu estava sabendo coisas de sua vida...a vida e a internet nos surpreendem...
Abração amigo e fique com DEUS!