Não são seis anos, mas não são seis dias!
Esse é o tempo que já estou nou Marrocos.
Começo a contar a volta: faltam dois anos e meio!
Diário Esporádico: escrito por ROBERTO CORRÊA DE CERQUEIRA CÉSAR, um engenheiro escritor, taurino, pai de dois meninos (por quanto tempo ainda?), com cabelo embranquecendo e caindo, ficando cada dia mais cego!
Postagem em destaque
"Concreto"
Pedra, barro, massa Mão, calo, amassa! Levanta parede No ar D a hora Que se levante! Mora dentro F ora Vi...
domingo, 23 de novembro de 2008
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Veneza
Voltando dessa cidade, sinto que não há muito a falar de uma cidade já tão decantada por poetas, prosadores e historiadores.
Mas tenho que, então...
Peixe dentro d'água, peixe fora dela (notem que seu mapa é a forma de um peixe), uma cidade lagunar é quase um caso único, sem carros, sem motonetas, mais estranha ainda!
E a riqueza do que já foi o centro do mundo (antes de Sevilha, dominando o Mediterrâneo, já que Lisboa esteve sempre um passo atrás desta no tempo das grandes navegações Atlânticas) gravada nos palácios e igrejas.
Falta-me erudição, mas a "Sereníssima" foi república (posso imaginar que não muito democrática ou popular) antecipando um movimento político que demoraria muito a se consolidar.
Mas vamos a coisas mais leves: caminhar, olhar e andar de vaporetto!
Deixar os olhos e os ouvidos sentirem a fleugma dos locais e a excitação dos turistas.
La vita è bella!
Mas tenho que, então...
Peixe dentro d'água, peixe fora dela (notem que seu mapa é a forma de um peixe), uma cidade lagunar é quase um caso único, sem carros, sem motonetas, mais estranha ainda!
E a riqueza do que já foi o centro do mundo (antes de Sevilha, dominando o Mediterrâneo, já que Lisboa esteve sempre um passo atrás desta no tempo das grandes navegações Atlânticas) gravada nos palácios e igrejas.
Falta-me erudição, mas a "Sereníssima" foi república (posso imaginar que não muito democrática ou popular) antecipando um movimento político que demoraria muito a se consolidar.
Mas vamos a coisas mais leves: caminhar, olhar e andar de vaporetto!
Deixar os olhos e os ouvidos sentirem a fleugma dos locais e a excitação dos turistas.
La vita è bella!
domingo, 2 de novembro de 2008
Domingo de manhã
Depois de mais de 40 horas, um raio de sol tímido aparece e os passarinhos se arriscam nuns pios esparsos... Esperanças refeitas, depois de uma noite longa de sono embalada pela chuva e frio ventoso!
Preciso sair, ir buscar o dinheiro da locatária, ir por gasolina no tanque do carro, todas boas desculpas para um café expresso bem forte num desses cafés que abundam aqui em El Jadida.
Um sábado inteiro dentro de casa, a casa fria (preciso de um aquecedor!) aquecida ontem pelo frango assado, hoje pela panela de feijão carioquinha (já um pouco velho, demorando a amolecer, ainda mais sem panela de pressão) trazido do Brasil como troféu-souvenir, quem brasileiro paulista não sente saudade de feijão, caldo grosso avermelhado (se carioca, preto!)?
Ou seja, salvo um longo papo em linhas de MSN com a prima Ana Helena de Águas da Prata, um dia inteiro dentro das paredes de mim: introspecção, sem tevê ("apagou" com a chuva, fui ver se havia problema na parabólica, mas nada visível). De novo a vida como espera, um xadrez, pensar longamente o próximo movimento, sem quem te apresse, motivo também para comemoração, afinal todos meio desesperados com obrigações e prazos vencidos e eu sem dever nada, pois nada me cobraram.
Agora é esperar pelo Massa, torcer como pelo Senna, Piquet e Fitipaldi, depois dois dias bestas no escritório e Veneza!
Espero que o teletransporte chegue logo!
Preciso sair, ir buscar o dinheiro da locatária, ir por gasolina no tanque do carro, todas boas desculpas para um café expresso bem forte num desses cafés que abundam aqui em El Jadida.
Um sábado inteiro dentro de casa, a casa fria (preciso de um aquecedor!) aquecida ontem pelo frango assado, hoje pela panela de feijão carioquinha (já um pouco velho, demorando a amolecer, ainda mais sem panela de pressão) trazido do Brasil como troféu-souvenir, quem brasileiro paulista não sente saudade de feijão, caldo grosso avermelhado (se carioca, preto!)?
Ou seja, salvo um longo papo em linhas de MSN com a prima Ana Helena de Águas da Prata, um dia inteiro dentro das paredes de mim: introspecção, sem tevê ("apagou" com a chuva, fui ver se havia problema na parabólica, mas nada visível). De novo a vida como espera, um xadrez, pensar longamente o próximo movimento, sem quem te apresse, motivo também para comemoração, afinal todos meio desesperados com obrigações e prazos vencidos e eu sem dever nada, pois nada me cobraram.
Agora é esperar pelo Massa, torcer como pelo Senna, Piquet e Fitipaldi, depois dois dias bestas no escritório e Veneza!
Espero que o teletransporte chegue logo!
sábado, 1 de novembro de 2008
"Tempo tempo tempo tempo"
Segredo de acordo sequer explicitado...
Vida eterna na memória, não memória de fatos ocorridos, mas inventados, botando todos desejos enfileirados e ir os pegando um a um...
No começo ainda meio deseperado, com medo de fins abruptos, depois pouco a pouco sabendo saborear os momentos de todos eles!
Enfileirar o tempo dos amigos, da bola, da água, do sol, do sal, das viagens intermináveis por terras de onde não tenho o menor conhecimento prévio e onde as línguas são estranhíssimas, das noites escuras, das aventurase, das leituras solitárias e das infindas festas de 800 talheres e os jantarzinhos íntimos.
Enfileirar o tempo dos amores: uma vida para cada um, um harém sucessivo de mulheres bonitas, filhos, casas a construir, ir de manhã cedo, depois do amor matinal que veio depois da noite bem dormida depois do amor noturno, pegar pão fresco na padaria, jornal novo na banca virgem da manhã zerada, uma cidade sem buzinas e sem fumaças, levar pela mão uma criança saudável, feliz e inteligente, vizinhos gentis, sucessos profissionais, salamaleques, celebridades merecidas, pelo menos vinte anos para cada coisa em seus apogeus...e lá se vão alguns séculos...
Que importa se da vida faltam poucas décadas, se posso sonhar eternidades?
Quem senão eu mesmo crio um mundo, de centenas de vidas nessa única vida, um Universo de muitos mundos, egotrip de onipotência, onde em todos eu sou o tal?
Vida eterna na memória, não memória de fatos ocorridos, mas inventados, botando todos desejos enfileirados e ir os pegando um a um...
No começo ainda meio deseperado, com medo de fins abruptos, depois pouco a pouco sabendo saborear os momentos de todos eles!
Enfileirar o tempo dos amigos, da bola, da água, do sol, do sal, das viagens intermináveis por terras de onde não tenho o menor conhecimento prévio e onde as línguas são estranhíssimas, das noites escuras, das aventurase, das leituras solitárias e das infindas festas de 800 talheres e os jantarzinhos íntimos.
Enfileirar o tempo dos amores: uma vida para cada um, um harém sucessivo de mulheres bonitas, filhos, casas a construir, ir de manhã cedo, depois do amor matinal que veio depois da noite bem dormida depois do amor noturno, pegar pão fresco na padaria, jornal novo na banca virgem da manhã zerada, uma cidade sem buzinas e sem fumaças, levar pela mão uma criança saudável, feliz e inteligente, vizinhos gentis, sucessos profissionais, salamaleques, celebridades merecidas, pelo menos vinte anos para cada coisa em seus apogeus...e lá se vão alguns séculos...
Que importa se da vida faltam poucas décadas, se posso sonhar eternidades?
Quem senão eu mesmo crio um mundo, de centenas de vidas nessa única vida, um Universo de muitos mundos, egotrip de onipotência, onde em todos eu sou o tal?
Fazenda Ibéria
Inventário geográfico gastronômico sentimental.
Tio Roque Villani, Rua Feijó, Rural Willis, Tia Cota, Maria de Cerqueira César Villani, Rua Gonçalves Dias, uma quadra nos separava pela Álvares Cabral, já ia com o gosto antecipado da sobremesa na memória olfato-gustativa da mexerica, da ponkan, do murkote e todos citros na boca, o cheiros dos sumos das cascas cortadas nas entranhas das ventas!
Na Rua Bandeirantes emendando com a Avenida Rio Branco (ainda sem o Teatro Municipal)já me vinha o barulho de jaca mole pesada madura passada caindo do alto da jaqueira e se espatifando nas folhas secas...Bum! Bomba doce para as abelhas e todo inseto dali... Tênis Clube das piscinas e ainda do vestiário feminino, onde minha mãe nos levava na infância (e onde vi, linda, cabeluda, anônima e inocente, na altura dos meus olhinhos tão baixos ainda, a primeira buceta, que depois demorei a reencontrar assim despreocupada, na intimidade a dois do casal, depois de muitos e ansiados anos!).
Avenida da Saudade, cemitério, meu pai Xandico, vô Luiz Egídio e vós Claudimira e Eugênia enterrados, vem os primo Nêgo, Hélio e Júlio e a prima Nana! Bolo de côco? Rosca doce no forno de barro, só a tia amorosa e Dona Benta pra me fazer comer a calda de margarina doce... E bala de alfeniz, massa quente e tixotrópica, viscosíssima, puxada nas mãos vermelhas da Nana, doceira e quituteira mór como a tia Cota!
Os primos Guto e Vivi e Maria e Paulo, menos vistos, pois mais velhos e atarefados já das coisas de adultos...mas habitantes também desse panteão de "santos idolatrados" do amor fraterno...
Depois do cemitério, escondida, a Zona, sim! a do meretrício, não tão baixo, onde muito depois eu soube de nomes como Geralda, Wanda, Nica e outras que tinham direito a luminosos de acrílico, e onde depois pude pegar fila, com os amigos de 15 anos na mesma paúra e penúria, para conhecer uma menina nova, morrendo de medo de sermos pegos pela Rádio Patrulha, vermelha e preta, da polícia militar ou preta e branca, da polícia civil...Lá entendi o que era uma "penteadeira de puta": mil e um perfumes, cosméticos baratos, bichinhos de pelúcia, às vezes uma tevezinha, o espelho enorme refletindo os corpos arfantes e as cortinas pesadas, as colchas e coxas, imagens de santos misturadas ao "pecado" do sexo!
Não tinha câmpus universitário, ninguém sabia quem era o Márcio Mesquita Serva!
Cavallari era uma loja de móveis da família de minhas amigas Virgínia e sua sobrinha, na Coronel Galdino de Almeida, acho que nem a madeireira precursora do loteamento existiam...
A Usina de Asfalto da Codemar veio depois, na Estrada de Avencas, mais íamos mais longe, cortar a chapada, itambés, vendo o Vale ao sul, depois saída da Fumares, o Rio do Peixe sem peixes, assoreado então, tão desprotegido sem suas matas galeria, areião, estrada de fazenda, o Córrego Água da Cobra, Amadeu Amaral!
A hérnia rota do tio de tanto trabalho, cortizona e analgésicos, colostomia e artrose, os tratores Massey Fergusson e Valmet roncando no arranca toco, no arar gradear, tombar, pasto vira cafezal, pasto velho vira melancial, na represa tem tilápia, lambari, peixe cachorro, carpa, traíra, já fritos na esperança do guloso!
Um churrasco mítico mora em mim, onde encontro e não em largo de todos eles, onde somos um, onde o sem tempo tem todo tempo do mundo, paraíso da memória, bons momentos congelados!
Exilado de mim, olho esse mundo com compaixão e choro a lágrima doce da saudade num dia perdido de frio e mau tempo no Marrocos, solito, solito, rodeado desses fantasmas camaradas, que vivos ou mortos povoam meu vasto coração de menino!
Tio Roque Villani, Rua Feijó, Rural Willis, Tia Cota, Maria de Cerqueira César Villani, Rua Gonçalves Dias, uma quadra nos separava pela Álvares Cabral, já ia com o gosto antecipado da sobremesa na memória olfato-gustativa da mexerica, da ponkan, do murkote e todos citros na boca, o cheiros dos sumos das cascas cortadas nas entranhas das ventas!
Na Rua Bandeirantes emendando com a Avenida Rio Branco (ainda sem o Teatro Municipal)já me vinha o barulho de jaca mole pesada madura passada caindo do alto da jaqueira e se espatifando nas folhas secas...Bum! Bomba doce para as abelhas e todo inseto dali... Tênis Clube das piscinas e ainda do vestiário feminino, onde minha mãe nos levava na infância (e onde vi, linda, cabeluda, anônima e inocente, na altura dos meus olhinhos tão baixos ainda, a primeira buceta, que depois demorei a reencontrar assim despreocupada, na intimidade a dois do casal, depois de muitos e ansiados anos!).
Avenida da Saudade, cemitério, meu pai Xandico, vô Luiz Egídio e vós Claudimira e Eugênia enterrados, vem os primo Nêgo, Hélio e Júlio e a prima Nana! Bolo de côco? Rosca doce no forno de barro, só a tia amorosa e Dona Benta pra me fazer comer a calda de margarina doce... E bala de alfeniz, massa quente e tixotrópica, viscosíssima, puxada nas mãos vermelhas da Nana, doceira e quituteira mór como a tia Cota!
Os primos Guto e Vivi e Maria e Paulo, menos vistos, pois mais velhos e atarefados já das coisas de adultos...mas habitantes também desse panteão de "santos idolatrados" do amor fraterno...
Depois do cemitério, escondida, a Zona, sim! a do meretrício, não tão baixo, onde muito depois eu soube de nomes como Geralda, Wanda, Nica e outras que tinham direito a luminosos de acrílico, e onde depois pude pegar fila, com os amigos de 15 anos na mesma paúra e penúria, para conhecer uma menina nova, morrendo de medo de sermos pegos pela Rádio Patrulha, vermelha e preta, da polícia militar ou preta e branca, da polícia civil...Lá entendi o que era uma "penteadeira de puta": mil e um perfumes, cosméticos baratos, bichinhos de pelúcia, às vezes uma tevezinha, o espelho enorme refletindo os corpos arfantes e as cortinas pesadas, as colchas e coxas, imagens de santos misturadas ao "pecado" do sexo!
Não tinha câmpus universitário, ninguém sabia quem era o Márcio Mesquita Serva!
Cavallari era uma loja de móveis da família de minhas amigas Virgínia e sua sobrinha, na Coronel Galdino de Almeida, acho que nem a madeireira precursora do loteamento existiam...
A Usina de Asfalto da Codemar veio depois, na Estrada de Avencas, mais íamos mais longe, cortar a chapada, itambés, vendo o Vale ao sul, depois saída da Fumares, o Rio do Peixe sem peixes, assoreado então, tão desprotegido sem suas matas galeria, areião, estrada de fazenda, o Córrego Água da Cobra, Amadeu Amaral!
A hérnia rota do tio de tanto trabalho, cortizona e analgésicos, colostomia e artrose, os tratores Massey Fergusson e Valmet roncando no arranca toco, no arar gradear, tombar, pasto vira cafezal, pasto velho vira melancial, na represa tem tilápia, lambari, peixe cachorro, carpa, traíra, já fritos na esperança do guloso!
Um churrasco mítico mora em mim, onde encontro e não em largo de todos eles, onde somos um, onde o sem tempo tem todo tempo do mundo, paraíso da memória, bons momentos congelados!
Exilado de mim, olho esse mundo com compaixão e choro a lágrima doce da saudade num dia perdido de frio e mau tempo no Marrocos, solito, solito, rodeado desses fantasmas camaradas, que vivos ou mortos povoam meu vasto coração de menino!
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